quarta-feira, 6 de abril de 2016

O dia seguinte

O que tenho a registrar há de despertar o interesse de alguém? Faço tal questionamento porque tenho estado sem paciência para acompanhar todos os rounds do embate entre direita e esquerda - acompanho muitos que, de repente, tomaram gosto pela discussão política, e têm feito do Facebook seu palanque de exposição de idéias. Não tenho, em absoluto, nenhum demérito a apontar quanto a isto, já que de minha parte usei do mesmo espaço, com muito menos vontade de discutir e denunciar do que já tive um dia. Resguardo meu indicador para o lápis e minhas palavras para o que tenho considerado mais importante para o momento. Aliás, a razão desta postagem se resume a isto, uma prestação pública de contas, principalmente àqueles que me conheceram faz pouco, e que o fizeram na seara das artes, havendo apostado no projeto Horizonte de Eventos, apoiando-o através do site Catarse de financiamento coletivo, aos que adquiriram a HQ, aos que observaram de longe e torceram em silêncio, também aos que me ombrearam na última edição da FIQ, evento que escolhi para lançar o projeto; enfim, a todos que, repentinamente, voltaram seus olhos para mim neste último ano, havendo encontrado algo interessante aí, ou não! Como quadrinista independente, mas, como marido e pai, tenho a arte como projeto paralelo de vida - e não vou tomar tempo enumerando as razões disto. Gostaria de trabalhar exclusivamente na área? Claro. Porém, no momento é impossível - tanto quanto buscar acompanhar o calendário de eventos voltados para o setor. Estes exigem planejamento, tempo e dinheiro. Parte do planejamento deve considerar o custo/benefício da minha presença em localidades distantes e dispendiosas, cujo evento atrativo se resume a uma visibilidade pequena nos poucos dias em que é realizado. O conjunto de tais salões, festivais, feiras e que tais me pôs de retorno ao divã da analista - hipoteticamente falando, claro! Fiz quatro anos de análise, e não considero ético da minha parte importunar a grande profissional que me ajudou com questões exaustivamente tratadas em consultório. Ela me ajudou a compreender e a alcançar uma síntese que resumo com a simplicidade com que alcancei um lápis e senti prazer ao desenhar, lá na primeira infância - é preciso não perder o foco disto, neste prazer, tanto quanto na razão de ser capaz de imaginar histórias que mereçam ser contadas através de uma HQ. Não posso, nem devo, me violentar na busca por um ideal artístico que, talvez, o mercado considere mais profissional, ou mais a favor do zeitgeist atual, e não conseguir. Não vou me prestar a fazer uma pesquisa de mercado para saber o que preferem os que leram Horizonte de Eventos, ou aqueles que de quando em vez deparam com uma arte minha no Facebook, comentem ou não, curtam ou não. Ceder ao mercado é parte do sacrifício de todo artista no interesse de poder trabalhar com o que sabe fazer, mas onde há mercado para mim? Nasci, cresci e habito uma cidade que considero o túmulo da cultura sob diversas formar, e ainda que haja iniciado uma caminhada para fazer-me conhecido para além de suas fronteiras, testemunho um cenário, e não um mercado. Meu exemplo é o de milhares, talvez centenas de milhares, que paralelamente a uma vida profissional maçante, buscam desenvolver uma atividade artística e cultural que, acima de um lucro que não se sabe se um dia virá, deve trazer prazer! Horizonte de Eventos foi integralmente confeccionada sobre o tampo de mármore redondo de uma mesa de cozinha, com três cadeiras em seu derredor, porque não há espaço para caber a quarta! Admira que, diante de tantos em tal semelhante situação alguns elementos componentes do escopo da exceção, comprobatória da regra, sejam tão pernósticos e assumam uma atitude de desprezo para com o novo - e não aponto isto como resposta por conta de alguma crítica negativa recebida. Pelo contrário, Horizonte de Eventos, aos que se propuseram a lê-lo e que contatar após, gerou elogios. Faço este pequeno parentese por conta do que vi e senti na pele - a sociedade brasileira é desunida como um todo, e não seria diferente num segmento ainda pouco visível da expressão artística nacional como o dos quadrinhos independentes. Mas, de retorno ao mote, a atitude do momento é do prazer do traço, da composição do roteiro a última gota de nanquim pingada no papel. Alguns eventos hão de aguardar por minha presença, e farei questão de comparecer, enquanto outros serão devidamente prestigiados em momento mais oportuno. Horizonte de Eventos foi apenas um começo, e muito está por vir - se você que lê destas linhas um dia verá e lerá tais histórias? Não sei! Esta é uma questão, assim como outras mais que circunvizinham o momento presente, que esperam resposta no dia de amanhã, e o amanhã ainda não aconteceu. Abraços e obrigado pela paciência.