domingo, 22 de dezembro de 2019

Os 10 Piores Filmes de Todos os Tempos

Ao contrário do que se possa imaginar, um filme ruim não é aquele que já nasce sob uma base instável de roteiro, produtor, diretor e orçamento – aqui se alocam os chamados filmes B, sendo eles propositalmente ruins, ou involuntariamente ruins; no primeiro caso se pode apontar para O Incrível Homem que Derreteu, uma produção americana de 1977 como exemplo clássico. Já no segundo caso, Batman & Robin é um exemplo bastante ilustrativo – aqui, se a história do astronauta que derrete não se propõe a ir além de um filme sem maiores ambições, a quarta aventura da dupla de super-heróis da cidade de Gotham é um horror completo, apesar de todo o orçamento, do diretor competente, do elenco estrelado e do compromisso de ser um filme do primeiro escalão da indústria americana de cinema. Todavia, o produto final resulta numa obra infinitamente pior que o horror protagonizado por um astronauta que não faz mais que derreter enquanto mata quem lhe aparece pelo caminho – Batman & Robin é ruim porque soube apelar diretamente a expectativa do público e entregou uma anomalia em forma fílmica. Destarte, a lista que segue, foca em dez obras que prometeram muito, com orçamentos gordos, roteiros supostamente bem urdidos, diretores de fama reconhecida, elenco de estrelas muito bem remunerado, e produtores e um estúdio de grande porte como base, e que resultaram em filmes sofríveis, constrangedores, patéticos (sim, a lista tem foco em obras de grande apelo nerd).

Matrix


Vendido como ‘o Blade Runner dos anos 90’, esta obra é um acinte desde as cenas iniciais em que efeitos visuais surgem gratuitos e redundantes – a humanidade vive uma existência que é uma realidade virtual coletiva, enquanto os recursos físicos de seus corpos adormecidos são as baterias que alimentam um império de máquinas autônomas. Tal premissa esconde um niilismo acachapante no subtexto, em que a lucidez dos poucos que despertam para a realidade nada pode influir, ou mudar nesta. É uma parábola da existência humana pessimista e derrotista. Alguns furos? As personagens principais são hackers habilidosos, mas não conseguem quebrar os códigos da programação da Matrix (a tal realidade virtual coletiva); se não podem fazê-lo, como despertaram para a realidade? Em alguns momentos, parecem bastante capazes de burlar a programação desta, mas não atinaram para criar um programa que torne Neo (Keanu Reeves) numa espécie de Superman indestrutível – a possibilidade de morte uma vez conectado a Matrix é constante, e ri alto quando isto é revelado no filme. É uma trilogia patética que parece dar sinais de que vai voltar, já que as diretoras do projeto original não fizeram nada de relevante depois disto.

Watchmen


A HQ na qual se baseia é um marco, mas tê-la entregue a Zack Snyder para executar a adaptação cinematográfica mostrou-se um grande erro – Snyder é um Homer Simpson a quem foi dado meio bilhão de dólares para conceber uma obra cinematográfica; seu foco não está nas tramas e no subtexto político, mas na violência gratuita e no sexo. Apenas quem é capaz de ver somente isto em Watchmen poderia alterar seu final de maneira a conceber o que se viu em tela; algo que não apenas altera o texto original, como deturpa o ethos do Dr. Manhattan e compromete os planos de Ozymandias como concebidos na HQ. Qualquer um percebe que a culpa recaindo sobre o Dr. Manhattan resultaria em guerra fatalmente. Mas seria pedir demais do Snyder. Depois desta obra, nenhum filme seu mais despertou-me qualquer expectativa. Por isto, eles não estão elencados aqui como os piores, pois já foram concebidos ruins graças ao seu diretor.

Batman & Robin


Tim Burton é cult para alguns, mas é um diretor de carreira brilhante na juventude, e sofrível na meia-idade. Ainda assim, os dois filmes do Batman que executou são clássicos geracionais. Os estúdios Warner, todavia, cansaram-se do tom soturno e chamaram Joel Schumacher, um diretor competente que poderiam controlar com facilidade – ledo engano. Joel fez um filme até que divertido com Batman Eternamente, mas o desastre aí já se anunciava. Revoltoso pela mão firme que o segurava pela nuca enquanto trabalhava, o diretor mandou tudo as favas e executou a obra mais constrangedora baseada em quadrinhos de todos os tempos. Desde a estética, o texto e as atuações soam fora de tom, bregas e ridículas. Não à toa consta de praticamente todas as listas de piores filmes.

Vingadores Ultimato


Vingadores Guerra Infinita é um filme acima da média para o gênero. Mostrando pacientemente o passo à passo do inamovível vilão Thanos em busca das joias do infinito, que lhe darão o poder de matar a metade da vida do universo, a obra frustra os protagonistas a todo momento; de derrota em derrota, os super-heróis da Marvel acabam vencidos pelo Titã Louco. O filme seguinte tinha o urgente compromisso de mostrar a refrega, a vingança, a revanche – o fez de modo patético, atabalhoado, afoito e decepcionante. É o encerramento frustrante de um feito único no cinema, a ligação de um universo compartilhado de filmes ao longo de mais de uma década. O filme é tão competente em ser ruim que os diretores são chamados a todo o instante para explicar o que se viu na tela – ainda assim, seja pela ingenuidade do espectador, ou apenas pela máquina publicitária funcionando a todo o vapor, tornou-se a maior bilheteria da história. Qualidade jamais será sinônimo de quantidade.

Ghost in the Shell


A adaptação cinematográfica dos mangás japoneses sempre esteve na pauta hollywoodiana, mas seria preferível que não estivessem. O zeitgeist oriental é algo incompreensível para o povo americano, e raros seriam os diretores capazes de transpor para a linguagem cinematográfica toda a complexidade de uma obra como Ghost in the Shell, ou Akira. Tivesse filmado frame a frame cada minuto do anime baseado no mangá e seria uma obra-prima. Contudo, apesar da estética interessante, que ainda assim peca em muitos aspectos, o roteiro subverte todo o material original e entrega uma história de amor canhestra em meio a perda da identidade quando a humanidade já não é inteiramente orgânica. Ficou mal executado, feio e muito aquém do esperado.

Logan


Wolverine, coitado, tem uma das piores trilogias de super-heróis do cinema, senão a pior. Este último filme, que marca a despedida de Hugh Jackman do papel que lhe deu fama e fortuna, não escapa a regra, apenas acentua a sina do pobre carcaju. Nos primeiros minutos do filme, tem-se o Wolverine dos quadrinhos em cena, como nunca visto – boca-suja, mal humorado, violento e despudorado. Era o que todo fã de quadrinhos queria ter visto desde sempre; mas, a FOX teve de esperar por Deadpool para apostar numa classificação mais alta para um filme de um personagem cuja essência é violência e pavio curto. Depois disto, no restante do filme, ele surge velho, alquebrado, cansado – morre atravessado por um toco. A pior morte que lhe poderiam dar, deram; e os bazingueiros basbaques saíram da sessão chorando – alguém para o mundo que eu desço no próximo ponto, por favor!

O Senhor dos Anéis


Adaptações de obras literárias, via de regra, ficam aquém do livro – pior ainda quando a visão dos realizadores da obra cinematográfica padece de uma tendência para o cafona. Peter Jackson pode querer esconder-se atrás de um desenho de produção caprichado, mas sua visão para a obra de Tolkien é brega até a alma. A relação de Frodo e Sam leva o bromance até o limite – é quase um Brokeback Mountain na Terra Média; pesa a não a reafirmação constante da amizade de ambos, do compromisso que firmaram. Frodo parece o garoto criado com a avó, vítima de bullying, cuidado pelo corpulento de cérebro pequeno Sam. E pra completar essa dupla digna de um estudo psicanalítico, há Merry e Pippin como a contraparte hobbit de Mussum e Zacarias. Gandalf tem sua personalidade austera, sapiencial e imponente vertida para um galhofeiro algo fanfarrão, enquanto Gimli é um anão de pavio curto e falastrão, tão chato que valeria mais a pena tê-lo jogado Abismo de Helm abaixo. Aragorn é o herói relutante de personalidade insipida enquanto o Legolas de Orlando Bloom parece ter injetado botox em toda a cara, tamanha a dificuldade em mudar de expressão. Só o Gollum se salva. Uma obra de contornos épicos, envolvente e cativante tornou-se uma trilogia cinematográfica sentimentalóide e decepcionante. Faz o gosto apenas de quem não leu os livros.

A Origem


Christopher Nolan é um diretor inconstante – ora dá ao mundo filmes brilhantes, como Grande Truque ou Batman O Cavaleiro das Trevas, ora entrega Batman Begins e este A Origem. Acaso o roteiro, nos dois primeiros casos, é tão coeso e bem amarrado que leva o ritmo do filme sem dificuldade, nos dois últimos exemplos ocorre o oposto, pois o ritmo fica comprometido com um roteiro que insiste em se explicar demais, subestimando a inteligência do espectador. A Origem se prometia um filme instigante, mas recai em abordar o mundo caudaloso da mente humana – um filme que fez isto de maneira muito mais hábil foi A Morte nos Sonhos, obra de 1984 com Dennis Quaid. Mas, Christopher Nolan quer levar o público a uma viagem pelas diversas camadas da consciência humana, uma mais chata que a outra, tendo como pano de fundo uma trama que é um fio de suspense que não se sustenta, tendo como subtrama a morte da esposa do personagem de Leonardo DiCaprio. Acaso o efeito especial de uma paisagem urbana se dobrando em si mesma é tudo que este filme tem para mostrar, passo.

Star Wars


Quantas vezes Star Wars foi transmitido pela Sessão da Tarde? Muito poucas! Afirmo, porque ao longo de toda a década de oitenta e de parte da década seguinte, não perdia uma transmissão de tal sessão vespertina de cinema. O que explica, então, a paixão de várias gerações por um filme pouco disponível num tempo anterior a internet, a TV paga, e ao videocassete? Vai saber – de minha parte, a pouca repetição da obra de George Lucas não me trouxe a memória afetiva que tenho de Curtindo a Vida Adoidado ou Superman, para ficar em apenas dois exemplos. Destarte, não desenvolvi o fanatismo que testemunho em amigos e conhecidos – e, a bem da verdade, pouco me interessa o mundo de Star Wars. Considero tudo enfadonho, maniqueísta, machista e autofágico; além de ser de uma nerdice até então inédita numa obra fílmica. Vejamos a personagem da princesa Leia, a quem ninguém parece dar muita importância, apesar de ter sido sua iniciativa a iniciar a trama; Han Solo desenvolve por ela um amor ginasiano, e como um garotinho de colégio, busca chamar-lhe a atenção insultando-a enquanto se vangloria e pavoneia seus feitos. Apenas para acentuar sua pouca importância, ela se torna uma escrava seminua de Jabba o Hutt. Luke é o herói bisonho que acaba tendo de se haver com uma herança paterna nebulosa (a Força e seu lado negro! Que medo!). Darth Vader, ao fim e ao cabo não é mais que um leão de chácara anabolizado do Imperador Palpatine – observando os fatos que o levaram de padawan a Lord Sith, sua importância se torna ainda mais relativa. Todos os filmes e produtos ligados a esta marca despertam-me pouco interesse – considero-os ruins porque se propõem a ser mais do que na verdade são, apesar da importância que queiram dar a ela.

O Iluminado


Filmes de terror envolvendo Espíritos me fazem rir – tivesse assistido a O Iluminado quando de seu lançamento e teria sido um marco em minha formação; não foi o caso. Assisti esta obra baseada em livro de Stephen King apenas na vida adulta, e depois de haver estudado com muito afinco ao Espiritismo. O filme perdeu ainda mais de seu apelo após me casar com uma médium psicofônica e sonambúlica – basicamente tomo café da manhã rodeado de Espíritos, e o medo que eles me impõem é zero. Mesmo aqueles mal-intencionados que porventura resolvem invadir meu lar desavisadamente. O problema com O Iluminado está nas escolhas que Stanley Kubrick fez para contar a história de Jack Torrance – para quem desconhece a obra original, o filme pouco explica, deixando tudo nebuloso em demasia; para quem leu o livro, a adaptação é inferior; para quem leu o livro e ainda é espírita, o filme soa anacrônico e kitsch, assim como O Exorcista. Que fique claro, contudo, que a produção é caprichada, a direção é cuidadosa e cirúrgica... o conteúdo, contudo, deixa a desejar. Danny Torrance e seu pai são médiuns cuja mediunidade estouvada resultou em tudo que se viu ao longo do filme – infelizmente Jack ficou louco por conta disso. É um drama e não um filme de terror.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Cinema em poucas linhas #5

O Homem que Inventou o Natal - Charles Dickens foi um canalha conjugal; qualquer biografia dele não pode deixar de abordar sua atitude ao abandonar a esposa após 22 dois anos de casamento e dez filhos. Mas, aqui, sua vida é abordada num recorte cirúrgico, evitando mostrar essa faceta desairosa do autor de Um Conto de Natal. E justamente o período que resulta nesta obra imortal é abordado no filme - entre bloqueios criativos, críticas, incapacidade de gerenciar a vida financeira da família e os dissabores com o pai, o escritor busca desesperadamente uma nova história que o leve de retorno a bonança do passado. A película se encerra com a costumeira positividade e otimismo dos filmes natalinos, em nada prenunciando o futuro sombrio da família. Mas, ainda assim, é bem feito e belo.

A pé ele não vai longe - o título parece uma piada de humor duvidoso quando o expectador da conta do destino da protagonista, interpretado por Joaquin Phoenix - alcoólatra, acaba envolvido num acidente de carro que o deixa paraplégico. John Callaghan de fato existiu e sua história é contada nesta cinebiografia dramática de humor ácido. Para os padrões das biografias abordadas pelo cinema, este filme é uma obra estranha, de ritmo lento e incapaz de despertar o interesse para onde a narrativa se encaminha. O dramalhão do cartunista confinado numa cadeira de rodas, e sua lenta saída do vício do álcool é menos interessante que seus cartuns.

Predadores Assassinos - todo predador é assassino, ao menos da espécie que ele preda para poder se sustentar. Em se tratando de crocodilos, o cardápio é bastante variado, e uma filha e seu pai presos num porão prestes a ser inundado por um furacão estão na lista de pratos. A produção é bastante esforçada e os atores idem, mas a história é bastante genérica, talvez causando mais pungentes reações do público se visto numa tela de cinema. Em casa não passa de um sessão fria de cinema, desses filmes que ninguém se importa de perder uma parte para ir ao banheiro ou estourar mais um balde de pipoca.

Rainhas do Crime - Três esposas de mafiosos irlandeses têm de assumir os negócios da família quando estes são presos - entre percalços e sucessos, a trinca de protagonistas subverte o típico filme de máfia numa obra que se propõe empoderadora do gênero feminino; e, pra sorte do expectador, ainda oferta uma experiência fílmica interessante, bem construída e com Melissa McCarthy deixando a comédia de lado para entregar uma atuação cheia de nuances e força. Gostei bastante.

Toy Story 4 - É Pixar! É bem feito que só, mas ao final da projeção aquela sensação de perda de tempo não deixa o pensamento. Toy Story constitui uma das trilogias mais redondinhas do cinema, mesmo dentre os filmes que não são animações. A saga dos brinquedos de Andy se encerrou tão magistralmente que seria preciso muita inventividade para dar sobrevida ao que fora mostrado até então - e isto faltou em algum ponto; é como se Toy Story 4 pudesse ser contado num curta-metragem sem prejuízo a ninguém, principalmente a história, cujas reviravoltas mais cansaram do que encantaram. Um quinto filme seria ainda mais inútil.

John Wick 3 Parabellum - Deu uma certa estafa este terceiro capítulo da saga do assassino que se vê em apuros depois de tentar vingar a morte de seu cão, e reaver o carro que lhe roubaram. Parece um filme que, a bem da verdade, poderia ser um primeiro ato de, aí sim, o terceiro capítulo da história - é tanta pancadaria e cena de ação que a mítica desta organização criminosa que parece dominar o mundo, sendo uma espécie de sociedade secreta (mais ou menos) paralela, pouco desenvolveu-se. E isto é tão verdade que o líder da mesma vive como um beduíno numa tenda no deserto; de minha parte, espera mais do que isto, e muito mais do filme todo.

sábado, 16 de novembro de 2019

Cinema em poucas linhas #4

Turma da Mônica Laços - Sidney Gusman é um gênio! Ele levou Maurício de Souza e investir numa das principais frentes de fãs do seu trabalho: os leitores que formou nas décadas de 1970 e 1980, e que por haverem se tornado adultos, abandonaram a leitura das HQs da Turma da Mônica. Apostando na nostalgia e num trabalho artístico caprichado, as graphic novels lançadas pelo estúdio são um sucesso. Este filme, que adapta um destes exemplares é, assim como o material que lhe deu origem, uma aposta na nostalgia e saudosismo dos trintões e quarentões que precisam, é verdade, fazer um esforço para se conectar a suas versões infantis a fim de se emocionarem com a película. Ela tem uma série de defeitos, entre os quais abrir mão da comédia presente no trabalho de Maurício de Souza; fosse o trabalho dos irmãos Cafaggi menos insípido o filme seria um primor. Para quem aprecia demais uma viagem emocional ao passado, este filme é uma pedida imperdível.

Hellboy - Ron Perlman era, e persiste sendo ainda a melhor encarnação de Hellboy, ao menos na caracterização física. Não aprecio o trabalho que Guillermo del Toro realizou nos dois filmes que trouxeram o vermelhão ao cinema, mas tenho menos apreço ainda por este terceiro filme, uma tentativa de reiniciar a série. Hellboy aqui tem pneuzinhos e tanta maquiagem na cara que o ator sofre pra dar alguma veracidade pra o tipo que monta. Pior é saber que, diversamente dos filmes anteriores, Mike Mignola esteve direta e fisiologicamente envolvido nesta produção, o que apenas leva ao leitor de seu trabalho a questionar como é possível que o próprio criador enxergue sua criatura de maneira tão diversa dos fãs que conquistou - é uma decepção desde o primeiro minuto, infelizmente.

Stan e Ollie - Para as gerações atuais, assistir a o Gordo e o Magro é o mesmo que visitar a um museu. A vida que levaram e a arte que deixaram é literalmente do milênio passado, de tal conta que dificilmente as plateias atuais encontrarão algum prazer nesta cinebiografia. A dupla de comédia mais famosa do cinema em todos os tempos é primorosamente caracterizada, e seu ocaso no pós-guerra é um drama mais profundo do que as gags do filme faz parecer. Stan busca custear com apresentações teatrais das cenas da dupla pela Inglaterra o projeto de um último filme que, afinal, não empolga nenhum produtor, para quem o Gordo e o Magro são cousa do passado - o filme não vai acontecer mesmo, mas as dificuldades que enfrentam para levar adiante sua arte, estando já às portas da terceira idade é de cortar o coração, principalmente se o espectador é também um artista. Gostei muito.

A Queda As Últimas Horas de Hitler - Bruno Ganz morreu este ano, e o mundo perdeu um ator inigualável. Este filme é já de alguns anos passados, mas sempre vale a pena revê-lo. Baseado nos relatos da secretaria do Führer, Traudl Junge, o filme mostra os dias finais do líder alemão, diante da iminente tomada de Berlim pelas forças da União Soviética. Com cenas perturbadoras e atuações maravilhosas, acabou popularizado pela cena em que Hitler dá um esporro em seus altos oficiais, quando se apercebe da derrota. A partir de então, passa a delirar, e seus asseclas se dividem entre adoração cega, fuga ou temor mortal de se insurgirem contra suas insanidades. O suicídio acaba sendo o último recurso para esses, inclusive para o próprio Führer - é um filme fantástico, importante e primoroso. Vale cada frame.

Vingadores Ultimato - E lá vamos nós: o filme é ruim, pura e simplesmente. Mas não é ruim por conta de defeitos técnicos ou inépcia de seus realizadores. Nada disso. Os irmãos Russo já se provaram cineastas acima da média há muito, e os estúdios Marvel demonstraram sempre um capricho com as adaptações que realiza desde 2008 com O Homem de Ferro. Todavia, depois de um espetáculo sem igual como Vingadores Guerra Infinita, a sensação aqui é que a Marvel se deu conta que, se filmasse um tijolo por três horas ainda assim teria um campeão de bilheteria nas mãos. Antes tivessem feito isto, mas não - pensaram nas mais estapafúrdias saídas para a revanche dos Vingadores após serem derrotados por Thanos, e resolveram usar todas num filme que peca por falta de ritmo, que corrompe o ethos das personagens e leva mesmo a apresentar o multiverso. Prova de que o filme está repleto de furos é que os diretores acabam tendo de responder as muitas dúvidas da imprensa, que faz senão refletir as plateias. Uma pena que a Marvel tenha fechado seu primeiro grande arco de um universo cinematográfico interligado de maneira tão inferior, destituída de imaginação e criatividade.

Popeye - outro filme das antigas que revi recentemente foi Popeye, a estréia de Robin Williams no cinema. Amigos na vida, ele e Christopher Reeve interpretaram dois grandes ícones dos quadrinhos - claro, o Superman de Reeve tornou-se um clássico inoxidável e inescapável, enquanto este Popeye não chegou a ser um sucesso, mas é uma joia a qual falta maior reconhecimento. Nem de longe se propõe a mesma veracidade que o filme do último kryptoniano, sendo um retrato estilizado de uma cidadela litorânea americana pós-quebra da bolsa de 1929 - a direção de arte busca refletir numa estética decadente os exageros do traço de E. C. Segar, criando sapatos com pontas bojudas, e os antebraços e panturrilhas que Williams ostenta acabam sendo tão necessários quanto o inseparável cachimbo e o olho direito suprimido por algum acidente nas lides no mar. A versão brasileira ainda teve o capricho de haver posto Orlando Drummond e André Luiz Chapéu nas dublagens de, respectivamente, Popeye e Brutus. Shelley Duvall fecha o trio principal com uma irretocável e definitiva Olivia Palito. O filme peca apenas no último ato, quando o diretor parece ter dado de ombros e deixado a deriva o barco, com o perdão do trocadilho - a ação é confusa e o clímax é abrupto e rapidamente cortado por uma cantoria que encerra o filme afoitamente.

domingo, 3 de novembro de 2019

21 séries marcantes

Nada de texto explicativo, nada de sinopse, nada de nada - apenas o nome e a foto das séries que mais me marcaram. Abraços.

1 - Spektreman

2 - Super Vicky

3 - O Elo Perdido

4 - Super-herói Americano

5 - Ark II

6 - Arquivo X

7 - Star Trek

8 - Parker Lewis

9 - Curto-circuíto

10 - Profissão Perigo

11 - Armação Ilimitada

12 - Seinfeld

13 - Friends

14 - Um Amor de Família

15 - Magnum

16 - The Nanny

17 - Chaves/Chapolin

18 - Louco Por Você

19 - The Big Bang Theory

20 - A Gata e o Rato

21 - A Bela e a Fera

O 'religiosismo' da cultura pop

A única rede social que utilizo é o Facebook; porque? Porque me faz recordar o Orkut. Sim, o velho, bom e extinto Orkut! Lá fui expulso de um sem número de comunidades pretensamente espíritas, apenas e por simplesmente pôr Allan Kardec na mesa de discussões - não há quem haja suportado a limpidez do Espiritismo em sua origem; caíram chicos, emmanueis, ramatises, armonds, etc., e os seus sequazes plenos de ódio. Tais altercações acaloradas ocorreram por conta da plataforma permitir e, por ser necessário desmistificar tudo quanto era (e persiste sendo) divulgado como se Espiritismo fosse; e isto lá em 2006. Mais de uma década se passou, e o pendor pessoal para esmurrar pontas de faca já se perdeu há muito. O ódio instilado pelas redes sociais o conheço bem, e sei que surge ao menor movimento, a mais imperceptível e inocente mensagem. Pois bem, nesta semana, partícipe da comunidade do site Omelete na citada rede social, referi-me a campanha dos estúdios Marvel para fazer de seu filme Vingadores Ultimato um candidato a premiação do Oscar em 2020 de maneira irônica - afirmei que a película deveria concorrer na inexistente categoria de melhor queijo-suíço cinematográfico - não precisava ser mais explícito quanto as minhas considerações acerca desta obra dos irmãos Russo. Todavia, fora divertido observar as reações patéticas de alguns dos demais participantes da comunidade, me outorgando uma autoridade que, de fato, não possuo - postei meu texto acerca das razões pelas quais não gostei do filme na comunidade, deixando claro que ali se encontrava minha visão e que não estava aberto para discussões, mas foi como atear fogo a um campo de petróleo. Um tentou me desautorizar, não se apercebendo que ao fazê-lo tomava minhas palavras com a força de uma lei; outro apanhou ponto por ponto o que escrevera e lançou suas tréplicas, buscando instilar meu espírito solidário ao pedir a leitura como uma troca de gentilezas, já que havia dado seu tempo a apreciar meus escritos. Risível - quando o espírito não quer, não quer e pronto! Apaguei minha postagem original, eliminando todo o ódio que se seguiu - mas este último, um tal de Marco Aurélio não sei das quantas, postou suas respostas diretamente neste blog, a fim de garantir que minha boa vontade não lhe faltasse. Deletei sem ler - porque? Por que não interessa - quando jovem nerd, todo o ódio e competitividade acéfala me era cuspida à face apenas por conta de tal condição; os valentões não se interessavam pela cultura pop - HQs era cousa de criança, filme só importava os de ação e artes-marciais, leitura de livros era atividade de caráter feminino, etc. Hoje a cultura nerd e a valorização da cultura pop é quase universal, o que é bom e ruim - é bom por que há mais dinheiro, zelo e carinho investido em produzir obras de qualidade, em contrapartida cria-se uma demanda numa linha de produção que dá origem a muito material ruim. Mas, talvez o pior aspecto disto é ver os novos nerds comportarem-se como os valentões da minha infância - todos querem ter razão todo o tempo acerca de toda manifestação cultura pop surgida; razão e primazia, aliás. É preciso ser o primeiro, o melhor e a autoridade máxima. É uma postura burra sob quaisquer aspectos. O mundo nerd e a cultura pop tornaram-se religião; as redes sociais são o púlpito da pregação e as discussões são o mote para se tecer sermões sacerdotais em que se disputa quem sabe mais sobre Naruto, UCM e Call of Duty! Realmente, tenho mais o que fazer. Inerentemente o Espiritismo exigia uma maior profundidade e uma discussão que se valia por si mesma - mas demandar tempo a discutir filmes, premiações e quem está certo por ter gostado ou desgostado é de uma esterilidade intelectual ímpar. Cansa. E tudo porque fiz um gracejo em forma de comentário numa comunidade nerd. Vou ali obrar e já volto...

domingo, 11 de agosto de 2019

10 Furos de Vingadores Ultimato


Na derradeira postagem deste blog expus minha decepção quanto ao fechamento do arco de filmes do UCM (Universo Cinematográfico Marvel), com Vingadores Ultimato – não sei o quanto há mais para ser encerrado em Homem-Aranha Longe de Casa, mas também não assisti a este filme para poder comentá-lo. Segundo as críticas, ele pouco lida diretamente com a trama do filme que o antecede na cronologia do UCM, qual seja o quarto capítulo dos Vingadores. Fato é que a Marvel perdeu a chance de dar término digno a um enorme feito, inédito e espantoso de interligar 22 filmes por mais de uma década, apresentando um filme apressado, afoito, cujo principal defeito é o roteiro. Abaixo listo as 10 razões pelas quais o roteiro é furado, segundo minha humilde opinião de leitor antigo da Casa das Ideias.

1_Quebra da Expectativa – o marketing natural que envolve o lançamento de um blockbuster não tem ação aqui, já que o problema está no fato objetivo de Vingadores Ultimato ser uma continuação direta de Vingadores Guerra Infinita, a tanto que seu título inicial seria Vingadores Guerra Infinita parte II; o compromisso era manter a mesma qualidade de roteiro em ambos os filmes, ou que fosse superado pela segunda parte. Mas, ocorreu justamente o contrário – Vingadores Ultimato tem um roteiro inferior e um andamento truncado, diferentemente da primeira parte desta história que caminha linearmente de modo gracioso, a ponto de não se sentir o tempo transcorrido da exibição.

2_Capitã Marvel – na cena pós-crédito de Vingadores Guerra Infinita, Nick Fury aciona um misterioso pager, daqueles antigos, onde surge o símbolo da Capitã Marvel antes deste se desfazer em pó. Então vem o filme nada além de mediano daquela que deveria ocupar no UCM a importância que a Mulher-Maravilha tem na concorrência. Todo mundo reclamou da cara amarrada de Carol Danvers, mas, ela deu o recado do quanto era poderosa e a audiência passou a imaginar seu embate contra Thanos. Bem, não ocorreu, ao menos não a contento. Os papagaios por aí passaram a repetir o ‘mimimi’ próprio dos roteiristas incompetentes, que vivem afirmando que personagens tão poderosos são difíceis de serem trabalhados, como o Superman, por exemplo. Besteira e amadorismo – Superman e Capitã Marvel têm ética e valores morais, e são esses os seus pontos fracos que podem ser explorados a exaustão por bons escritores, e a razão principal porque são eles heróis, e não vilões. A Capitã aparece pra destruir uma nave, mostrar seu novo corte de cabelo (lindo, aliás), e tomar um piparote do Thanos. Fim pra ela. Merecia imensamente mais, não apenas a personagem como os fãs que esperaram por isso.

3_Hulk – de promessa a bebê gigante verde. Professor Hulk não honra sua contraparte nos quadrinhos e acaba por ser a versão mais sem graça do Gigante Esmeralda. Uma saída interessante seria tê-lo tornado cinza, totalmente selvagem e irracional, saindo no corpo-a-corpo com Thanos, quebrando-lhe alguns dentes e lhe arrancando um cadinho de sangue roxo. Porém, a expectativa lançada em Guerra Infinita, veja só, não se cumpre e eles sequer dividem a cena no campo de batalha – consegue ser ainda mais frustrante que a participação da Capitã Marvel.

4_Thanos – ele é um deus? Mais de um fã me questionou – mas a união dos heróis não seria suficiente pra derrubar o titã louco? Ficou forçado, afinal de contas, um Thanos que não cai a um simples soco, que parece não sentir uma sucessão de relâmpagos disparados contra si, que não solta uma única gota de suor diante do seu inevitável fim pelas mãos da franzina Feiticeira Escarlate. Pior, esse azougue de força e tenacidade simplesmente senta e espera seu fim após Tony Stark ter estalado os dedos.

5_Descaracterização – essa atitude de Thanos diante do inevitável, uma Viúva Negra chorosa, um Thor pateticamente gordo e fraco, enfim, toda uma série de pontos em vários personagens parecem tê-los descaracterizado. Hão de afirmar que, afinal, diante de um evento cósmico e após cinco anos, seria de se esperar por mudanças. Fato, mas sem mostrar o que levou um personagem daqui para lá, torna-se difícil dar crédito a mudança. Mas a descaracterização principal é a do ser humano. O que fizeram os americanos após os eventos do 11 de setembro de 2001? Arregaçaram as mangas e reconstruíram, foram à luta – esse é o ser humano. Em Ultimato, o ser humano é um ser ridículo, que deixa seu mundo às moscas, chorando por cinco anos os que foram mortos. Prédios em ruinas, construções abandonadas e pessoas taciturnas fizeram da realidade pós-Thanos o cenário de um filme de zumbis. Ficou ridículo e não condiz com o espírito humano.

6_Viagem no tempo – como desfazer o que Thanos fez? Viagem no tempo! Simples, mas quem pode ajudar? Ora, Tony Stark. Ele não quer muito, mas em dois dias descobre como fazê-lo. Contudo, nada é o que parece, e o que se sabe sobre viagens no tempo não valem aqui. Máquina de Combate sugere ir ao passado e matar Thanos ainda bebê; o Hulk diz que não funciona. Pior do que a introdução às viagens no tempo nesta altura do filme, é o diálogo do Hulk com a Anciã: ora, se a realidade não pode ficar sem a jóias, ela não sofreria algum tipo de convulsão, Armagedom ou algo do tipo quando, no início do filme, Thanos as destrói, antes de ter a cabeça decepada por Thor? Eis o exemplo de um dos muitos furos do roteiro. Bem, basicamente o filme cai no mesmo problema de X-Men Dias de um Futuro Esquecido – alguém volta ao passado para alterar o futuro. Mas se o futuro que gerou a viajem no tempo para o passado nunca existiu, a viajem em si nunca aconteceu – paradoxo que, como tal, é insolúvel. Mais ou menos – a viagem no tempo não resulta em paradoxo, resulta em linhas temporais paralelas, ou seja, multiverso. Pronto, era o que a Marvel queria, e como eles não são muito bons nas introduções curtas (Era de Ultron só existe para apresentar a Feiticeira Escarlate e o Visão), tem-se um filme ruim sobre uma desastrada viajem no tempo. Bill e Ted fizeram melhor.

7_Mortes desnecessárias – A certa altura, os produtores da Marvel se sentaram numa mesa e ficaram imaginando quanto dinheiro seria necessário para convencer tantos atores a ficar para mais uma fase do UCM; então, como ninguém está disposto a pedir falência para pagar o puxadinho da mansão de Robet Downey Jr. o melhor a fazer é matar o Homem de Ferro. Voilà! E de uma só tacada se vai o Homem de Ferro, o Capitão América e a Viúva Negra. De todos, espanta mesmo a morte do Vingador Dourado, afinal, ele não previu, ou não foi devidamente informado por Nebulosa acerca dos efeitos das Jóias do Infinito? A questão em si não é a morte de tais personagens, mas como foi realizada. O Tony Stark desastrado de Homem de Ferro 3 dá as caras e pronto, ele morre de modo tão patético quanto o Wolverine em Logan; um pouco menos, talvez. Um gênio que fez tudo o que foi mostrado em diversos filmes não merecia um fim tão amador.

8_As Joias e o elemento biológico – falando em joias, ao que parece, aquele efeito destrutivo visto no primeiro Guardiões da Galáxia é sazonal, afinal. Vários personagens não parecem ter meios de apanhar as gemas senão com as mãos nuas e, nada acontece. Nenhum orbe, nenhuma luva especial, nenhum pegador de macarrão, nada! Somente Thanos, Hulk e o próprio Tony Stark é que se lascaram com o efeito mortal das Joias do Infinito. A luva do Gavião Arqueiro deve ser mais poderosa que a manopla da Armadura do Homem de Ferro, afinal, ele segura a Joia da Alma sem problemas. Realmente, um furo que, não apenas vai contra o que até então se viu nos filmes anteriores, como faz da morte de Tony Stark algo ainda mais patético.

9_Escala de poder – poder, eis o grande problema dos super-heróis e seus super-vilões. Como mensurá-lo adequadamente? Thor apanhando de Thanos? Bem, ele apanhou da própria irmã em Ragnarok, não é? Mas unido a outros heróis ele não poderia por Thanos pra dormir? Bem, Thanos pareceu não sentir os raios que o ‘Deus do Trovão’ atirou sobre ele. A Capitã Marvel é mais poderosa que o Thor? Ou a Feiticeira Escarlate é mais poderosa que todos eles juntos, mas não tanto quanto Thanos? Nenhum estagiário fez uma planilha disso durante a escrita do roteiro? Pô! Esses estagiários...

10_Diretores explicadinhos e um futuro tolo – acaba o filme. Mas a Marvel quer bater Avatar nas bilheterias mundiais e o relança com material adicional, totalmente dispensável. Truque sujo, barato! A Marvel consegue, mas os diretores ficam dando entrevista atrás de entrevista para explicar o inexplicável – a bagunça vista no filme é decorrência direta de um roteiro ruim! Seria mais honesto admitir isto. Vem a San Diego Comic Com, e no hall H, Kevin Feige anuncia os lançamentos da próxima fase do UCM. Tirando o quarto filme do Thor e o segundo filme do Dr. Estranho, nada ali parece interessante; e, veja só, nada de Capitão América, Hulk, Homem de Ferro ou dos Vingadores. E Blade não é Wesley Snipes. Um filme que precisa de muita explicação adicional após o apagar das luzes não ficou bom. Simples assim. A Marvel liquida a questão sem a glória do primeiro Homem de Ferro. Lamentável.

Personagens de quadrinhos são como times de futebol - por mais que o fã torça o nariz quanto ao que é feito destes, a decisão é dos editores e roteiristas; não adiante espernear, chorar, criar petições e abaixo-assinados. A única arma é o boicote. Tchau Marvel! Quem sabe numa realidade paralela vocês tenham acertado a mão para encerrar este universo fantástico.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Fui enganado pela Marvel! Fui?


Acaso a memória não me falha, e a vista não me engane, há uma tradição cinematográfica nova em voga - a do final cebolão. Que final? O final das trilogias, das sagas, enfim, de um arco de filmes que possui uma ligação entre si. Ao que me consta, O Retorno do Rei começou com essa tradição - a trilogia de Peter Jackson já peca por ser piegas demais, e o derradeiro capítulo da sua versão para os livros de Tolkien é o ponto alto, buscando toda sorte de subterfúgios para levar o espectador às lágrimas. Toy Story 3 fez melhor, talvez por não ser baseado em nenhum material prévio, com um final de quebrar corações. Logan enveredou pelo cebolão, encerrando de modo canhestro uma das trilogias mais patéticas do cinema de super-heróis. E eis que, então, tem-se no presente ano o capitulo final da saga dos Vingadores em película, que encerra nada menos que 11 anos e 22 filmes interligados - algo inédito, digno de nota, respeito e espanto. O sucesso da transposição dos personagens da Casa da Idéias para o cinema gerou lucros astronômicos, restabeleceu e fez carreiras e tornou milionários um punhado de gente. Fãs de todo o planeta e de várias gerações uniram-se em mente e coração a cada novo filme, a cada capítulo de uma história maior cujo andamento já se desenhava em 2012, ao final do primeiro filme dos Vingadores, quando na cena pós-créditos Thanos surge e leva as plateias ao delírio. Uma Saga do Infinito se avizinhava, e só os engenheiros da Marvel para saber quantos filmes mais até o embate final. Bem, foram cinco longos anos de espera, gratificantes em grande parte, até o desfecho com Vingadores Ultimato. Mas o filme é bom? O efeito cebolão é como uma variável cósmica volátil e imprevisível. Assim como os fãs e muitos críticos tecem loas a Logan, o mesmo ocorre aqui; mas, e depois que os últimos lenços de papel enxugam as derradeiras lágrimas, a luz se acende e a magia do cinema fica no passado? Vingadores Ultimato é, para mim, uma retumbante decepção. Aderindo à moda, a Marvel perde a oportunidade de manter-se singular em sua proposta. Mas, talvez, o desejo fosse inserir em definitivo a galhofa comum aos quadrinhos de super-heróis no produto cinemático. E aí está parte do problema. Quando bem executada, essa manobra gera Shazam! ou, caso contrário, Batman & Robin, apenas para citar dois exemplos ilustrativos de resultados opostos desta verve. Vingadores Ultimato é uma decepção primeiramente por conta da quebra de expectativa, e não daquela criada pela máquina de marketing do estúdio, mas do fato de o filme ser continuação direta de Vingadores Guerra Infinita - o compromisso era um filme à altura, com a mesma qualidade, ou antes, superior. Inaceitável que seja inferior, e é. A quebra dessa expectativa perpassa aspectos da trama - Capitã Marvel está longe de ser a única e última, senão a solução definitiva para derrotar Thanos; ela não chega nem perto disto. Já a Feiticeira Escarlate, por outro lado, dá o recado muito bem. Hulk é humilhado pelo Titã Louco em Guerra Infinita, para, em Ultimato sequer dividirem a mesma tomada, frustrando quem imaginou ser merecido que o Gigante Esmeralda, em toda sua gloriosa fúria, devesse esfregar o chão com aquele queixo roxo. Os problemas do filme, todavia, não cessam na quebra da expectativa. Capitã Marvel (novamente ela) está longe de ser o 'deux ex-machina' tão alardeado. O termo refere-se aquela solução miraculosa que surge no momento certo e liquida a questão principal em aberto da trama. O ressurgimento constrangedor de Scott Lang é apenas o exemplo mais flagrante. Porém, a viajem no tempo é o principal 'deus ex-machina' do filme, e a pior saída encontrada pelos roteiristas para dar resolução ao que ocorrera em Guerra Infinita. Pior, nada acerca de como a viajem no tempo é usada no filme parece fazer muito sentido, já que as explicações causam mais confusão que entendimento - as dúvidas de jornalistas, nerdtubes e fãs nas redes sociais é a consequência disto. Quando bem usada, a viajem no tempo gera filmes do quilate de De Volta para o Futuro. Quando não, descamba para bobagens como X-Men Dias de um Futuro Esquecido. Vingadores Ultimato consegue a façanha de ser pior neste aspecto que o filme dos mutantes, deixando paradoxos e pontas soltas atrás da ação desenfreadas dos heróis. Teorizo que isto foi assim utilizado com o fito de introduzir os postulados do multiverso. A ideia do multiverso nasce nos quadrinhos como um remendo, uma gambiarra para corrigir decisões editoriais desastradas que puseram em frangalhos a cronologia de um sem número de personagens, especialmente os da DC. Crise nas Infinitas Terras foi apenas a primeira dentre muitas crises com o objetivo de desfazer erros pretéritos de editores e roteiristas. Não deu certo, já que a esta seguiram-se e ainda seguem novas crises, ano após outro, apenas para zerar a numeração das revistas e fazer subir as vendas num mercado em encolhimento constante. Uma vez que as crises e reformulações passaram a fazer parte do cenário de HQs de super-heróis, os novos leitores testemunham como normalíssimo o expediente das viagens no tempo e do multivero. Para o expectador de cinema, o conceito já vinha sendo apresentado, por meio do já citado filme dos X-Men, após por Deadpool 2 para, enfim, chegar-se a Homem-Aranha no Aranhaverso. Com Vingadores Ultimato o estrago está feito, mas, creio ser uma aposta equivocada. Os expectadores serão apresentados a roteiros furados, cheios de pontas soltas e paradoxos; novas fases se seguirão no Universo Cinematográfico Marvel, e novos personagens apresentados - mas será que as reviravoltas miraculosas serão tão bem aceitas? Não será forçar demais a suspensão da incredulidade? Vingadores Ultimato encaixa-se naquela categoria de filme ruim em que seus realizadores, amiúde, devem vir a público para explicá-lo; se precisa ser explicado é porque não ficou bom - o uso das viagens no tempo parece-me uma solução preguiçosa, um 'deus ex-machina' dos mais afoitos, apelativos e sem brilho. Não dá a sensação de um filme inacabado, feito apressadamente, sem cuidado?