domingo, 11 de agosto de 2019

10 Furos de Vingadores Ultimato


Na derradeira postagem deste blog expus minha decepção quanto ao fechamento do arco de filmes do UCM (Universo Cinematográfico Marvel), com Vingadores Ultimato – não sei o quanto há mais para ser encerrado em Homem-Aranha Longe de Casa, mas também não assisti a este filme para poder comentá-lo. Segundo as críticas, ele pouco lida diretamente com a trama do filme que o antecede na cronologia do UCM, qual seja o quarto capítulo dos Vingadores. Fato é que a Marvel perdeu a chance de dar término digno a um enorme feito, inédito e espantoso de interligar 22 filmes por mais de uma década, apresentando um filme apressado, afoito, cujo principal defeito é o roteiro. Abaixo listo as 10 razões pelas quais o roteiro é furado, segundo minha humilde opinião de leitor antigo da Casa das Ideias.

1_Quebra da Expectativa – o marketing natural que envolve o lançamento de um blockbuster não tem ação aqui, já que o problema está no fato objetivo de Vingadores Ultimato ser uma continuação direta de Vingadores Guerra Infinita, a tanto que seu título inicial seria Vingadores Guerra Infinita parte II; o compromisso era manter a mesma qualidade de roteiro em ambos os filmes, ou que fosse superado pela segunda parte. Mas, ocorreu justamente o contrário – Vingadores Ultimato tem um roteiro inferior e um andamento truncado, diferentemente da primeira parte desta história que caminha linearmente de modo gracioso, a ponto de não se sentir o tempo transcorrido da exibição.

2_Capitã Marvel – na cena pós-crédito de Vingadores Guerra Infinita, Nick Fury aciona um misterioso pager, daqueles antigos, onde surge o símbolo da Capitã Marvel antes deste se desfazer em pó. Então vem o filme nada além de mediano daquela que deveria ocupar no UCM a importância que a Mulher-Maravilha tem na concorrência. Todo mundo reclamou da cara amarrada de Carol Danvers, mas, ela deu o recado do quanto era poderosa e a audiência passou a imaginar seu embate contra Thanos. Bem, não ocorreu, ao menos não a contento. Os papagaios por aí passaram a repetir o ‘mimimi’ próprio dos roteiristas incompetentes, que vivem afirmando que personagens tão poderosos são difíceis de serem trabalhados, como o Superman, por exemplo. Besteira e amadorismo – Superman e Capitã Marvel têm ética e valores morais, e são esses os seus pontos fracos que podem ser explorados a exaustão por bons escritores, e a razão principal porque são eles heróis, e não vilões. A Capitã aparece pra destruir uma nave, mostrar seu novo corte de cabelo (lindo, aliás), e tomar um piparote do Thanos. Fim pra ela. Merecia imensamente mais, não apenas a personagem como os fãs que esperaram por isso.

3_Hulk – de promessa a bebê gigante verde. Professor Hulk não honra sua contraparte nos quadrinhos e acaba por ser a versão mais sem graça do Gigante Esmeralda. Uma saída interessante seria tê-lo tornado cinza, totalmente selvagem e irracional, saindo no corpo-a-corpo com Thanos, quebrando-lhe alguns dentes e lhe arrancando um cadinho de sangue roxo. Porém, a expectativa lançada em Guerra Infinita, veja só, não se cumpre e eles sequer dividem a cena no campo de batalha – consegue ser ainda mais frustrante que a participação da Capitã Marvel.

4_Thanos – ele é um deus? Mais de um fã me questionou – mas a união dos heróis não seria suficiente pra derrubar o titã louco? Ficou forçado, afinal de contas, um Thanos que não cai a um simples soco, que parece não sentir uma sucessão de relâmpagos disparados contra si, que não solta uma única gota de suor diante do seu inevitável fim pelas mãos da franzina Feiticeira Escarlate. Pior, esse azougue de força e tenacidade simplesmente senta e espera seu fim após Tony Stark ter estalado os dedos.

5_Descaracterização – essa atitude de Thanos diante do inevitável, uma Viúva Negra chorosa, um Thor pateticamente gordo e fraco, enfim, toda uma série de pontos em vários personagens parecem tê-los descaracterizado. Hão de afirmar que, afinal, diante de um evento cósmico e após cinco anos, seria de se esperar por mudanças. Fato, mas sem mostrar o que levou um personagem daqui para lá, torna-se difícil dar crédito a mudança. Mas a descaracterização principal é a do ser humano. O que fizeram os americanos após os eventos do 11 de setembro de 2001? Arregaçaram as mangas e reconstruíram, foram à luta – esse é o ser humano. Em Ultimato, o ser humano é um ser ridículo, que deixa seu mundo às moscas, chorando por cinco anos os que foram mortos. Prédios em ruinas, construções abandonadas e pessoas taciturnas fizeram da realidade pós-Thanos o cenário de um filme de zumbis. Ficou ridículo e não condiz com o espírito humano.

6_Viagem no tempo – como desfazer o que Thanos fez? Viagem no tempo! Simples, mas quem pode ajudar? Ora, Tony Stark. Ele não quer muito, mas em dois dias descobre como fazê-lo. Contudo, nada é o que parece, e o que se sabe sobre viagens no tempo não valem aqui. Máquina de Combate sugere ir ao passado e matar Thanos ainda bebê; o Hulk diz que não funciona. Pior do que a introdução às viagens no tempo nesta altura do filme, é o diálogo do Hulk com a Anciã: ora, se a realidade não pode ficar sem a jóias, ela não sofreria algum tipo de convulsão, Armagedom ou algo do tipo quando, no início do filme, Thanos as destrói, antes de ter a cabeça decepada por Thor? Eis o exemplo de um dos muitos furos do roteiro. Bem, basicamente o filme cai no mesmo problema de X-Men Dias de um Futuro Esquecido – alguém volta ao passado para alterar o futuro. Mas se o futuro que gerou a viajem no tempo para o passado nunca existiu, a viajem em si nunca aconteceu – paradoxo que, como tal, é insolúvel. Mais ou menos – a viagem no tempo não resulta em paradoxo, resulta em linhas temporais paralelas, ou seja, multiverso. Pronto, era o que a Marvel queria, e como eles não são muito bons nas introduções curtas (Era de Ultron só existe para apresentar a Feiticeira Escarlate e o Visão), tem-se um filme ruim sobre uma desastrada viajem no tempo. Bill e Ted fizeram melhor.

7_Mortes desnecessárias – A certa altura, os produtores da Marvel se sentaram numa mesa e ficaram imaginando quanto dinheiro seria necessário para convencer tantos atores a ficar para mais uma fase do UCM; então, como ninguém está disposto a pedir falência para pagar o puxadinho da mansão de Robet Downey Jr. o melhor a fazer é matar o Homem de Ferro. Voilà! E de uma só tacada se vai o Homem de Ferro, o Capitão América e a Viúva Negra. De todos, espanta mesmo a morte do Vingador Dourado, afinal, ele não previu, ou não foi devidamente informado por Nebulosa acerca dos efeitos das Jóias do Infinito? A questão em si não é a morte de tais personagens, mas como foi realizada. O Tony Stark desastrado de Homem de Ferro 3 dá as caras e pronto, ele morre de modo tão patético quanto o Wolverine em Logan; um pouco menos, talvez. Um gênio que fez tudo o que foi mostrado em diversos filmes não merecia um fim tão amador.

8_As Joias e o elemento biológico – falando em joias, ao que parece, aquele efeito destrutivo visto no primeiro Guardiões da Galáxia é sazonal, afinal. Vários personagens não parecem ter meios de apanhar as gemas senão com as mãos nuas e, nada acontece. Nenhum orbe, nenhuma luva especial, nenhum pegador de macarrão, nada! Somente Thanos, Hulk e o próprio Tony Stark é que se lascaram com o efeito mortal das Joias do Infinito. A luva do Gavião Arqueiro deve ser mais poderosa que a manopla da Armadura do Homem de Ferro, afinal, ele segura a Joia da Alma sem problemas. Realmente, um furo que, não apenas vai contra o que até então se viu nos filmes anteriores, como faz da morte de Tony Stark algo ainda mais patético.

9_Escala de poder – poder, eis o grande problema dos super-heróis e seus super-vilões. Como mensurá-lo adequadamente? Thor apanhando de Thanos? Bem, ele apanhou da própria irmã em Ragnarok, não é? Mas unido a outros heróis ele não poderia por Thanos pra dormir? Bem, Thanos pareceu não sentir os raios que o ‘Deus do Trovão’ atirou sobre ele. A Capitã Marvel é mais poderosa que o Thor? Ou a Feiticeira Escarlate é mais poderosa que todos eles juntos, mas não tanto quanto Thanos? Nenhum estagiário fez uma planilha disso durante a escrita do roteiro? Pô! Esses estagiários...

10_Diretores explicadinhos e um futuro tolo – acaba o filme. Mas a Marvel quer bater Avatar nas bilheterias mundiais e o relança com material adicional, totalmente dispensável. Truque sujo, barato! A Marvel consegue, mas os diretores ficam dando entrevista atrás de entrevista para explicar o inexplicável – a bagunça vista no filme é decorrência direta de um roteiro ruim! Seria mais honesto admitir isto. Vem a San Diego Comic Com, e no hall H, Kevin Feige anuncia os lançamentos da próxima fase do UCM. Tirando o quarto filme do Thor e o segundo filme do Dr. Estranho, nada ali parece interessante; e, veja só, nada de Capitão América, Hulk, Homem de Ferro ou dos Vingadores. E Blade não é Wesley Snipes. Um filme que precisa de muita explicação adicional após o apagar das luzes não ficou bom. Simples assim. A Marvel liquida a questão sem a glória do primeiro Homem de Ferro. Lamentável.

Personagens de quadrinhos são como times de futebol - por mais que o fã torça o nariz quanto ao que é feito destes, a decisão é dos editores e roteiristas; não adiante espernear, chorar, criar petições e abaixo-assinados. A única arma é o boicote. Tchau Marvel! Quem sabe numa realidade paralela vocês tenham acertado a mão para encerrar este universo fantástico.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Fui enganado pela Marvel! Fui?


Acaso a memória não me falha, e a vista não me engane, há uma tradição cinematográfica nova em voga - a do final cebolão. Que final? O final das trilogias, das sagas, enfim, de um arco de filmes que possui uma ligação entre si. Ao que me consta, O Retorno do Rei começou com essa tradição - a trilogia de Peter Jackson já peca por ser piegas demais, e o derradeiro capítulo da sua versão para os livros de Tolkien é o ponto alto, buscando toda sorte de subterfúgios para levar o espectador às lágrimas. Toy Story 3 fez melhor, talvez por não ser baseado em nenhum material prévio, com um final de quebrar corações. Logan enveredou pelo cebolão, encerrando de modo canhestro uma das trilogias mais patéticas do cinema de super-heróis. E eis que, então, tem-se no presente ano o capitulo final da saga dos Vingadores em película, que encerra nada menos que 11 anos e 22 filmes interligados - algo inédito, digno de nota, respeito e espanto. O sucesso da transposição dos personagens da Casa da Idéias para o cinema gerou lucros astronômicos, restabeleceu e fez carreiras e tornou milionários um punhado de gente. Fãs de todo o planeta e de várias gerações uniram-se em mente e coração a cada novo filme, a cada capítulo de uma história maior cujo andamento já se desenhava em 2012, ao final do primeiro filme dos Vingadores, quando na cena pós-créditos Thanos surge e leva as plateias ao delírio. Uma Saga do Infinito se avizinhava, e só os engenheiros da Marvel para saber quantos filmes mais até o embate final. Bem, foram cinco longos anos de espera, gratificantes em grande parte, até o desfecho com Vingadores Ultimato. Mas o filme é bom? O efeito cebolão é como uma variável cósmica volátil e imprevisível. Assim como os fãs e muitos críticos tecem loas a Logan, o mesmo ocorre aqui; mas, e depois que os últimos lenços de papel enxugam as derradeiras lágrimas, a luz se acende e a magia do cinema fica no passado? Vingadores Ultimato é, para mim, uma retumbante decepção. Aderindo à moda, a Marvel perde a oportunidade de manter-se singular em sua proposta. Mas, talvez, o desejo fosse inserir em definitivo a galhofa comum aos quadrinhos de super-heróis no produto cinemático. E aí está parte do problema. Quando bem executada, essa manobra gera Shazam! ou, caso contrário, Batman & Robin, apenas para citar dois exemplos ilustrativos de resultados opostos desta verve. Vingadores Ultimato é uma decepção primeiramente por conta da quebra de expectativa, e não daquela criada pela máquina de marketing do estúdio, mas do fato de o filme ser continuação direta de Vingadores Guerra Infinita - o compromisso era um filme à altura, com a mesma qualidade, ou antes, superior. Inaceitável que seja inferior, e é. A quebra dessa expectativa perpassa aspectos da trama - Capitã Marvel está longe de ser a única e última, senão a solução definitiva para derrotar Thanos; ela não chega nem perto disto. Já a Feiticeira Escarlate, por outro lado, dá o recado muito bem. Hulk é humilhado pelo Titã Louco em Guerra Infinita, para, em Ultimato sequer dividirem a mesma tomada, frustrando quem imaginou ser merecido que o Gigante Esmeralda, em toda sua gloriosa fúria, devesse esfregar o chão com aquele queixo roxo. Os problemas do filme, todavia, não cessam na quebra da expectativa. Capitã Marvel (novamente ela) está longe de ser o 'deux ex-machina' tão alardeado. O termo refere-se aquela solução miraculosa que surge no momento certo e liquida a questão principal em aberto da trama. O ressurgimento constrangedor de Scott Lang é apenas o exemplo mais flagrante. Porém, a viajem no tempo é o principal 'deus ex-machina' do filme, e a pior saída encontrada pelos roteiristas para dar resolução ao que ocorrera em Guerra Infinita. Pior, nada acerca de como a viajem no tempo é usada no filme parece fazer muito sentido, já que as explicações causam mais confusão que entendimento - as dúvidas de jornalistas, nerdtubes e fãs nas redes sociais é a consequência disto. Quando bem usada, a viajem no tempo gera filmes do quilate de De Volta para o Futuro. Quando não, descamba para bobagens como X-Men Dias de um Futuro Esquecido. Vingadores Ultimato consegue a façanha de ser pior neste aspecto que o filme dos mutantes, deixando paradoxos e pontas soltas atrás da ação desenfreadas dos heróis. Teorizo que isto foi assim utilizado com o fito de introduzir os postulados do multiverso. A ideia do multiverso nasce nos quadrinhos como um remendo, uma gambiarra para corrigir decisões editoriais desastradas que puseram em frangalhos a cronologia de um sem número de personagens, especialmente os da DC. Crise nas Infinitas Terras foi apenas a primeira dentre muitas crises com o objetivo de desfazer erros pretéritos de editores e roteiristas. Não deu certo, já que a esta seguiram-se e ainda seguem novas crises, ano após outro, apenas para zerar a numeração das revistas e fazer subir as vendas num mercado em encolhimento constante. Uma vez que as crises e reformulações passaram a fazer parte do cenário de HQs de super-heróis, os novos leitores testemunham como normalíssimo o expediente das viagens no tempo e do multivero. Para o expectador de cinema, o conceito já vinha sendo apresentado, por meio do já citado filme dos X-Men, após por Deadpool 2 para, enfim, chegar-se a Homem-Aranha no Aranhaverso. Com Vingadores Ultimato o estrago está feito, mas, creio ser uma aposta equivocada. Os expectadores serão apresentados a roteiros furados, cheios de pontas soltas e paradoxos; novas fases se seguirão no Universo Cinematográfico Marvel, e novos personagens apresentados - mas será que as reviravoltas miraculosas serão tão bem aceitas? Não será forçar demais a suspensão da incredulidade? Vingadores Ultimato encaixa-se naquela categoria de filme ruim em que seus realizadores, amiúde, devem vir a público para explicá-lo; se precisa ser explicado é porque não ficou bom - o uso das viagens no tempo parece-me uma solução preguiçosa, um 'deus ex-machina' dos mais afoitos, apelativos e sem brilho. Não dá a sensação de um filme inacabado, feito apressadamente, sem cuidado?