sábado, 25 de julho de 2020

Mulher Maravilha


UCM - Do Pior ao Melhor

Uma enciclopédia que se preze, hoje, em seu vocábulo decepção estampa o logotipo da Marvel Studios. Após 11 anos e 23 filmes a suposta casa das ideias encerrou seu primeiro grande arco de adaptações cinematográficas com um filme aquém, medíocre, ridículo, inferior, que atende pelo título de Vingadores Ultimato. Pode-se colocar a questão como não aceitação dos conceitos, ideias, estratagemas argumentativos levados a efeito no filme, o que não é de todo descabido; mas as muitas pontas soltas e todo o trabalho de moldar a expectativa do espectador urdido de forma inédita por um universo compartilhado de filmes no decurso de uma década são dados que não podem ser ignorados por nenhuma analista, ou crítico. Fato é que as escolhas feitas para se contar o modo como os super-heróis planejaram e executaram os meios de reverter o que fora feito por Thanos no filme anterior não me agradaram; as saídas e as situações pareceram afoitas, descabidas, ilógicas, cansadas e amadoras. Não era, definitivamente, o filme esperado ou merecido, um filme que desce cabo de encerrar gloriosamente uma trajetória de sucesso. Mas a presente postagem não vem tratar de execrar, uma vez mais, esse que é o pior filme da década que se encerrara há pouco - num derradeiro esforço de tentar encontrar algumas das alegrias que os filmes da Marvel deram a este contumaz e antigo leitor de suas obras, alegrias perdidas pelo decepcionante encerramento já citado, elencarei ao meu agrado os vinte e três filmes do estúdio, lançados antes da pandemia que pôs o cinema em compasso de espera, como grande parte do mundo aliás, do pior até o melhor.

Vingadores Ultimato (2019)
Pior que uma bolada nos testículos depois de uma vasectomia, pior que uma patolada do padrasto alcoólatra e violento, pior do que ficar trancado pra fora do apartamento completamente nu, pior do que tratamento de canal sem anestesia,... tudo o que havia de pior que os roteiristas engavetaram foi, neste filme, usado como recurso narrativo - uma decepção tão indescritível que comprometeu parte do prazer de assistir aos filmes que o antecederam. Como vislumbrar as conexões que ligam os filmes formando este grande universo compartilhado sem antever e lamentar o que os aguarda nesta obra? Mortes desnecessárias, meios canhestros e torpes de livrar-se dos personagens, e um antagonista absurdamente invulnerável e imparável são apenas algumas dentre a pletora de falhas que esta obra carrega. Tudo para levar a efeito e até as últimas consequências o conceito de multiverso, uma gambiarra oriunda das HQs, ali necessária para cobrir furos de cronologia - vai funcionar no cinema? Quem se importa? Pra mim não funciona.

Homem de Ferro 3 (2013)
O uso amplo do amarelo na armadura usada no filme já não era bom sinal - Tony Stark salvou o dia em Vingadores (2012), mas isso o traumatizou; acovardado e psicologicamente comprometido, cria armaduras como terapia, uma pior que a outra, até ver-se na mira de um terrorista que não é o que aparenta. O filme galhofa do vingador dourado desperdiça Rebecca Hall e Ben Kingsley, e parece desconectado do UCM em trama que envolve o presidente dos EUA - cadê a Shield? Uma porcaria sem tamanho, e a primeira grande derrapada da Marvel nos cinemas; obviamente, depois do enorme sucesso do filme anterior, este não faria menos que 1 bilhão globalmente, e fez. Um belo incentivo para se continuar a fazer lixo.

Vingadores Era de Ultron (2015)
A ideia era introduzir três elementos novos no universo Marvel - Feiticeira Escarlate, Mercúrio e o Visão; deveria fazer parte do pacote o fato de ser uma aventura dos Vingadores, e para tanto, porque não apanhar de algum elemento conhecido das HQs? Ultron, quem sabe? Esqueceram-se apenas de não decalcar na primeira aventura do grupo - há um vilão diretamente relacionado a alguns dos personagens principais? Sim! Há uma máquina a ser destruída? Sim! Há a destruição iminente de uma cidade inteira? Sim! Era de Ultron deveria chamar-se Era da Cópia. Escolheram uma maneira bem idiota de acolher novos personagens para o UCM; me arrependo de haver comprado o álbum de figurinhas do filme - fiz questão de não completar depois de assisti-lo.

Capitã Marvel (2019)
A fodona que vai esfregar o chão com a cara do Thanos, certo? Errado - não há problema algum em um filme ter suas bandeiras, como o feminismo, por exemplo, desde que esta não interfira a ponto de criar uma história ruim; e esta é a questão aqui. Nada além de passável, a saga da militar que é abduzida após perder a memória num processo que a tornou infinitamente poderosa, protagonizada por uma atriz que aqui não encontrou a personagem, e que tem no elemento masculino senão um adereço (Nick Fury), um antagonista (Yon-Rogg) ruim. Quando ela se mostra no pleno uso de seus incríveis poderes, eles não são tão poderosos assim. Um prenúncio para Vingadores Ultimato.

Thor - Mundo Sombrio (2013)
Aborrecido, enfadonho, cansativo - o que há mais para registrar acerca de tal filme? Os mesmos elementos estão presentes, mas sem a mesma graça do ineditismo inicial, e com desenvolvimentos nada interessantes - se Era de Ultron foi uma maneira ruim de apresentar personagens, Mundo Sombrio é uma maneira ruim de apresentar mais uma das joias do infinito. Ao fim e ao cabo o filme presta-se apenas a isso - e pra não afirmar se tratar de obra menor, corajosamente matam a mãe da protagonista. É de notar tal audácia, afinal Rene Russo era imprescindível aí - me penalizo pela atriz que não apenas é talentosa como um afago às pupilas. Não foi senão por conta deste filme que Chris Hemsworth quase deixou o UCM.

Doutor Estranho (2016)
Quando introduziram Thor ao UCM me surpreendi - havia algo de Eram os Deuses Astronautas? ali, e de um modo positivo. Como se sairia a Marvel em introduzir o Doutor Estranho e a magia em seu universo cinematográfico? Não muito bem. Não é um filme de todo ruim, mas em sua função de inserir mais um tijolo neste pulsante e excitante universo, sai-se bem medíocre, e muito aquém do que um personagem de tal porte representa, ou pode representar. Fato é que a magia é um elemento perigoso para a coesão de uma narrativa, que dirá de um universo inteiro - mas o quê? As favas com tal risco, e dá-lhe cena após outra, belas e inventivas de fato, mas desprovidas de bases racionais. O ponto positivo do filme recai em Benedict Cumberbatch, sempre ótimo. A luta do Dr. Estranho contra Thanos em Guerra Infinita vale mais que este filme todo.

Homem-Formiga (2015)
O campeão dos superestimados da Marvel, o Homem-Formiga nas HQs é um dos heróis que vieram fundar os Vingadores. Aqui, o veterano Hank Pym dá lugar ao duvidoso Scott Lang para retomar o controle de seus inventos - a formula Marvel está toda lá, não faltando um só detalhe ou item a ser notado. A questão que se apresenta é até que ponto vale a pena adaptar um personagem que poderia ser um coadjuvante tal como a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro, ambos apresentados em filmes de outros heróis sem que haja protagonizado os seus. Apesar da história redondinha, não dá para não ver como excessiva a existência do próprio filme em si - e um excesso destituído de brilho.

Homem-Formiga e a Vespa (2018)
Scott Lang voltou a prisão depois de Capitão América Guerra Civil, tendo abalada suas relações com Hank Pym e Hope Van Dyne. No entanto, telepaticamente conectado a Janet Van Dyne por efeito de haver estado no Reino Quântico, Scott volta a estar na mira do Dr. Pym que ainda busca sua esposa perdida. Achei o filme mais bem amarrado que o primeiro, com uma história mais encorpada, ainda que a vilã Fantasma seja bem insípida, apesar de sua trama interessantíssima. Mas, é um filme do Homem-Formiga, que prossegue em dar-me aquela sensação de excessivo, e um tanto dispensável - ainda assim ele tem seus muitos fãs, leitores das antigas que veem seu valor. É melhor que o primeiro, certamente.

Pantera Negra (2018)
Substitua o elenco afrodescendente por aborígenes australianos, ou nepaleses, e o filme perde todo o encanto; parece uma provocação, o que de fato é, mas o que me incomodou neste filme é o tratamento dado a questão racial, ela motivadora da decisão final do rei T'Challa de abrir Wakanda para o mundo, interrompendo séculos de isolamento. O modo singular como a America lida com a questão racial encontra eco aqui, o que compromete a suspensão da descrença - porque um país tão moderno e auto-suficiente vai se importar com a questão racial de outros países? Parece-me mesmo uma visão racista que afirma que todos os negros são iguais, assim como há quem pense que orientais de olhinhos puxados também o são, quando na verdade há um sem fim de etnias que os distinguem. Pantera Negra é um filme que fala ao negro americano, que descende de escravos oriundos de um processo de ruptura social que decorreu numa guerra civil - no Brasil não houve guerra, apenas para citar um exemplo. Mas este é já um vespeiro que mexi em demasia - o ponto alto do filme é o elenco que desempenha brilhantemente papeis escritos sob medida e, claro, a transposição para as telas de uma nação africana altamente tecnológica e rica. É um filme visualmente muito bonito, apenas menos colorido que Guardiões da Galáxia.

O Incrível Hulk (2008)
Precisavam de um ator com cara de nerd para interpretar o pacato Dr. Bruce Banner, e foram logo escolher o encrenqueiro Edward Norton - sua saída ruidosa do papel acabou por, infelizmente, levar Liv Tyler de roldão. É um filme que poderia ser maior se mais aprofundado em certos aspectos psicológicos da personagem; mas é um risco fazê-lo como Ang Lee provou anteriormente. Então a Marvel preferiu a aventura, e a vida do físico que guarda um monstro dentro de si é um jogo de gato e rato sem fim. Não é ruim, mas poderia ser melhor. Tim Roth empresta uma profundidade que não se vê nas HQs ao vilão Abominável, o que é já uma grande vantagem para o filme.

Guardiões da Galáxia Vol. II (2017)
Exagerar o que deu certo no primeiro filme é a toada aqui - mais cores, mais gritos, mais discussões inúteis, mais piadas e uma apelação forçada na suposta relação paternal de Yondu e Peter deixa todo o conjunto hiperbólico e cansativo. Ainda assim, reforça pontos muito positivos - Drax é de longe a figura mais pateticamente engraçada, constrangedora e nonsense. Há uma cena em especial que prometia muito - Nebulosa juramentando a Kraglin fazer horrores com seu pai Thanos. Nas HQs é ela quem toma a manopla do infinito e desfaz o estalar de dedos do titã louco. Aguardei que fosse esta uma pista da adaptação deste fato no futuro filme em que Thanos seria combatido pelos Vingadores, mas me equivoquei completamente. Esta segunda aventura da trupe galática da Marvel é como um meteoro que queima e explode tão espetacularmente quanto fugazmente - entra e sai da mente sensibilizando bem menos a memória do que o primeiro filme.

Homem-Aranha Longe de Casa (2019)
Depois da desgraça de Vingadores Ultimato, a Marvel encerra com uma aventura leve, tão leve que passa sem causar - fica na memória apenas a participação de J. Jonah Jameson na pele do grande J. K. Simmons revelando ao mundo a identidade do teioso. É admirável que o conceito de multiverso aqui comece a fazer estragos - Mystério enganar o jovem e inexperiente Peter Parker é credível, mas Nick Fury e Maria Hill é já um arroubo constrangedor. Multiverso é uma gambiarra criada para acomodar personagens e outras realidades alternativas num mesmo Cosmo que, se numa mesma realidade seria uma bagunça. Mas, ora veja, a bagunça tornou-se ainda maior por conta dessa gambiarra usada indiscriminadamente. Aqui, o Homem-Aranha enfrenta Mystério - fim. É bom? Passável, mas fez 1 bilhão. Não foi com meu ingresso que se chegou a tal montante.

Homem de Ferro 2 (2010)
Maior, mais espetaculoso, mais grandiloquente, mas nem por isso melhor. Ver Mickey Rourke num personagem que prometia muito, entregar pouco por conta de uma trama construída sem zelo e esmero é decepcionante. Ao fim e ao cabo ele se torna apenas um acessório, um coadjuvante menor numa batalha final contra Tony Stark que não empolga e nem diverte. Aliás, o designer da armadura que usa é ruim demais. Filme feito para alicerçar o UCM sobre o carisma de Robert Downey Jr., e seu talento inigualável para a autopromoção. Ainda assim, muito acima de algumas obras que viriam mais tarde.

Homem-Aranha de Volta ao Lar (2017)
O Homem-Aranha do UCM embora atenda por Peter Parker, é o personagem do Ultiverso, e não aquele da linha regular de publicações da Marvel. E está em tal fato parte da crítica daqueles que não gostaram do filme. Não é meu caso - o universo do teioso ganha profundidade com a adesão bem vinda de Michael Keaton como o Abutre, numa história interessante, diretamente relacionada aos fatos anteriormente vistos nos demais filmes do UCM, ou seja, totalmente inserido aí. Apesar da participação do Homem de Ferro, a trajetória de amadurecimento do jovem herói é independente e singular, a tanto que ao final ele esnoba a proposição do primeiro para aderir aos Vingadores. Tem o espírito jovem como seu protagonista e certamente não poderia ser uma acolhida melhor a um personagem que ainda está contratualmente atrelado a outro estúdio cinematográfico. Gostei muito.

Thor (2011)
Quando o universo compartilhado da Marvel era já uma realidade, e Thor se anunciava para breve imaginei como fariam a transposição para a película de um deus nórdico; imaginando o pior, veio-me o melhor - surpreendi-me com Thor, com toda a construção de Asgard, a composição das muitas personagens que tornaram crível este outro mundo, a figura imponente de Odin, o espetáculo do ambicioso Loki e sua relação com o irmão mimado e orgulhoso. Tudo bem feito num filme redondo e sem arestas. Mas, obviamente, se enviado para a Terra a fim de aprender a humildade, Thor o faz num tempo recorde, forçando os limites da suspensão da descrença do espectador. Outro ponto forte é a trilha sonora, épica na medida certa para representar o herói. Este filme surpreendeu-me de modo positivo.

Guardiões da Galáxia (2014)
Quem? Apenas leitores vorazes saberiam dizer quem é esta equipe obscura da Marvel. São uns coadjuvantes bem a escanteio do núcleo cósmico da editora; suas contrapartes nas HQs tinham, até então, visuais bem diferentes, de modo que poucos ligaram o nome à pessoa. É um filme colorido e galhofa, mas para completos desconhecidos, suas personas trouxeram um frescor bem-vindo. Eis um filme que, com louvor, presta-se a ser mais uma peça no quebra-cabeças das joias do infinito que levariam a Thanos. A trilha sonora é uma personagem em si mesma. Ainda assim, fora preciso cuidado com a expectativa exortada pela publicidade e pelas reações superlativas de crítica e público - é um bom filme, mas se equilibra perigosamente no precipício que leva a caricatura. A sequência não teve o mesmo cuidado, incorrendo numa história esquecível e histriônica.

Thor Ragnarok (2017)
Depois de perder o martelo e aprender humildade; depois de enfrentar o próprio irmão que evocara uma invasão alienígena sobre Nova York; depois de perder a mãe e, supostamente o irmão; depois de ir e vir com sua ficante, Thor não tinha mais para onde ir ou o que fazer - Chris Hemsworth não queria mais ser o filho de Odin. Ragnarok injetou-lhe novo ânimo - num filme tão colorido quanto os dos Guardiões da Galáxia, o filho dileto de Asgard descobre-se mais bem-humorado ainda que diante de uma ameaça que dá cabo de seu lar. Claro, Thor ainda perde - primeiro o martelo, depois seu pai, a liberdade, os cabelos, um olho e, por fim a própria Asgard. O que sobra é mais do que suficiente para ele descobrir toda sua potencialidade como deus do trovão, ao enfrentar sua irmã pica das galáxias. Diversão pura em uma necessária rajada de originalidade kirbyana voltada para o universo de Thor.

Capitão América Guerra Civil (2016)
Praticamente um filme dos Vingadores sem o ser. HQs como Watchmen já abordaram a questão num passado não tão longínquo - como controlar seres tão poderosos quanto os super-heróis? Quem vigia os vigilantes? Aqui os Vingadores têm de se haver com as nefastas consequências de sua segunda aventura, a tal Era de Ultron que durou só um pouquinho. O Conselho de Segurança da ONU inventa um tratado que fende o grupo entre os aderentes e os contrários. Para engrossar esse caldo descobre-se que o Soldado Invernal assassinara os pais de Tony Stark, e que um tal de Zemo, que tivera sua família vitimada pela ação dos heróis em Sokovia, está manipulando todo mundo para destruir de vez os Vingadores. É tanta cousa acontecendo em tela que poderia ter dado muito errado, mas deu muito certo, a tal ponto de até mesmo introduzirem o Pantera Negra na história. Está longe de uma guerra civil literal, menos ainda aquela que fora vista nas HQs, que lhe serviu mais como inspiração, mas é um ótimo filme que reúne a equipe toda.

Capitão América O Primeiro Vingador (2011)
O filme que introduziu o bandeiroso é fiel as HQs, o que causou estranhamento em toda uma geração desacostumada ao conhecimento histórico e a história da cultura do século XX - a obra é uma joia que mimetiza os filmes das matinês, sessões de cinema vespertinas que traziam filmes de aventuras para entreter crianças e jovens - Indiana Jones é um exemplo clássicos dessa estética. O filme não poderia ter outro diretor que não Joe Johston, um cineasta germinado do caldo criativo do cinema americano dos anos 1970 - para se ter uma ideia, fora ele o responsável pelo designer da nave Millennium Falcon de Star Wars, ao tempo em que trabalhou na ILM. Aqui, o Capitão América vai de raquítico a símbolo e depois a herói, enfrentando o Caveira Vermelha e desaparecendo no Ártico, tudo como manda sua trajetória, irrepreensivelmente filmada no que considero um dos melhores filmes da Marvel.

Homem de Ferro (2008)
Considerando o ineditismo da proposta, e tantos fatores contrários ao seu sucesso, é miraculoso que a primeira aventura do vingador dourado tenha não apenas dado o pontapé inicial aos Estúdios Marvel, como feito ressurgir das cinzas a figura problemática de Robert Downey Jr. que, a bem da verdade, leva o filme nas costas - é de pensar no talento do sujeito, que sem um roteiro acabado quando as filmagens começaram, improvisou pra caramba, moldando ao calor do trabalho a persona de Tony Stark. Definitivamente a personagem não merecia o fim que lhe deram, mesmo com o ator, 11 anos mais tarde, buscando alçar outros voos. A produção é uma aventura sensacional que ata o apelo que a vida displicente de um playboy milionário de ego inflado tem, com o fascínio que a tecnologia atualmente desperta na humanidade.

Capitão América O Soldado Invernal (2014)
Os irmãos Russo vão muito além nesta segunda incursão do Capitão América em um filme solo, envolvendo o espectador numa trama política de roer as unhas - as cenas de ação só podem ser assistidas com pleno prazer apenas da ponta da poltrona do cinema, e nenhum lugar mais. E de modo diverso do terceiro filme do Homem de Ferro, os elementos políticos evocados aqui repercutem para além do estrito círculo do bandeiroso, por isso as figuras de Nick Fury e da Viúva Negra não são meros acessórios, ou participações especiais de luxo. As atuações dão a exata medida da trama, como por exemplo o choque de Steve Rogers com a descoberta de que Bucky está vivo -  é impactante mesmo para aqueles que sabiam disto pelas HQs. Um começo promissor para a dupla de diretores, que infelizmente se perderiam anos depois...

Vingadores (2012)
O ano de 2012 demarcou-se indelevelmente em minha memória graças a essa obra - filme após outro a Marvel foi paulatinamente excitando a imaginação do planeta com a conjunção de alguns de seus maiores heróis nesta apoteótica aventura que, a exemplo do primeiro filme do Superman com Christopher Reeve, é certamente um dos melhores filmes de super-herói já feitos. Admito que a convocação de Joss Whedon para a direção pôs-me desconfiado - nunca foi um realizador cujas obras tenham despertado o menor interesse. No entanto, ele provou-se condigno da tarefa - claro, ao que parece um raio não cai duas vezes no mesmo local, e ele acabaria por cometer Era de Ultron que está entre os piores do estúdio. Tive o prazer de ver a primeira aventura dos Vingadores no cinema, e que experiência sensacional. Ainda adquiri e completei o álbum de figurinhas oficial. Um deleite.

Vingadores Guerra Infinita (2018)
Audacioso, épico, impactante - qualquer adjetivo menor é falsear a realidade de tal obra. Como um axiomático fenômeno natural, Thanos arromba a porta do UCM e calma e serenamente derrota um a um os que se interpõem em seu caminho, rumo ao estalar de dedos final, destituindo o universo conhecido de metade de suas formas de vida. Ninguém sai ileso, ninguém mais vai dormir direito depois disso, e a refrega final se torna urgente - mas como se provaria um ano mais tarde, foi tudo em vão, tudo oco, tudo virou bosta. É o testemunho do quão gigante e sublime a Marvel pode ser, e de como uma empresa de entretenimento mundial pode ser cegada pelo sucesso, fazendo que seus produtos pareçam um jogo de dados onde a vitória é um capricho auspicioso do acaso. A mais reles beneficiadora de esterco tem um controle de qualidade melhor do que a Disney e a Marvel juntas. É  Guerra Infinita um testemunho do gênio, do acerto, do engenho humano devotado a entreter em seu máximo - o melhor da Marvel, sem dúvida.

sábado, 4 de julho de 2020

Cinema em Poucas Linhas #9


Titan - Sam Worthington não dá sorte; desde Avatar virou o ator certo para a próxima bomba a surgir nos cinemas, ou nesse caso na telinha da Netflix. Aliás, a servidora de streaming é a empresa certa quando o cineasta tem uma ótima ideia, mas não sabe como executá-la - é uma porcaria atrás da outra, sempre desperdiçando premissas interessantíssimas. Eis o caso de Titan, em que um bando de casca-grossas das forças armadas se candidatam a um experimento biológico que vai facultá-los a viver em Titã, satélite natural de Saturno. Claro, porque tão longe, tão inóspito e tão surpreendente para as cobaias humanas quando começam a ter reações estranhas, são questões que o filme não responde. Quando Sam vira um bichão pavoroso que eu teria medo de encontrar à noite numa rua escura, a bomba já não sabe se explode como filme de suspense, ação ou ficção-científica. Próximo.

Close - Noomi Rapace é uma deusa entre fungos; qualquer filme com ela vou assistir, não interessa o tamanho da bomba - e aqui ela demonstra a sua dimensão, levando a trama nas costas com uma presença magnética, do início ao fim. Salva a história de uma herdeira bilionária sob ameaça de morte que ela, uma segurança particular, tem de proteger? Claro que não, afinal é Netflix; mas, por Deus, que atriz. O plot é esse aí, e quando parecia que ia deslanchar, resolve-se sem mais nem menos, e a subtrama da personagem que ela interpreta fica no ar. Um verdadeiro coito interrompido, num filme em que toda energia está unicamente em sua protagonista.

Doutor Sono - Sequer sabia que Stephen King havia escrito uma sequência para O Iluminado, mas ainda bem que escreveu. Achei esse filme estrelado por Ewan McGregor mais legal que o filme a que presta homenagem como continuação, aquele mesmo que tornou-se clássico por ter sido rodado pelo diretor fetiche Stanley Kubrick. Inclusive encontraram um sujeito para reviver o papel que fora então de Jack Nicholson. Doutor Sono se equilibra na tênue linha entre focar no livro ao qual adapta e ser uma continuação da obra de Kubrick - e não é que consegue? E consegue com honras! Um bando de vampiros de vapor, que sugam a iluminação dos que a tem, cruzam o caminho do crescido Danny Torrance e sua nova amiga muito mais poderosa que ele, a garotinha Abra Stone. Ah, e tem a Rebecca Ferguson sensacional. Recomendo!

It a Coisa (ambos os filmes) - Um alienígena, ou ser transdimensional vindo do espaço cai no que se tornaria uma cidadezinha americana interiorana e, a cada 27 anos ataca as crianças do lugar, disfarçado de palhaço, seviciando-as para alimentar-se de seus medos. Obviamente, quem conhece o catatau de 1200 páginas que compõe o livro escrito por Stephen King sabe que dois filmes não dariam conta de atar todas as pontas soltas e questões irresolutas resultantes desta adaptação. Mas ainda assim é um filme caprichado, embora eu tenha, indo contra a opinião geral, preferido o segundo ao primeiro filme. Mas, está longe de ser aquela maravilha toda - apesar da boa composição de personagens, a quase ausência de autoridade e a figura adulta retratada sempre com negatividade é um ponto incredível da trama; tanto quanto uma série de outros furos aparentes, que uma mini-série da obra daria conta de cobrir melhor.

A Vastidão da Noite - Filme redondo? Quase, ao menos para mim. Há quem ache fraco, e de fato, se pensado exclusivamente por sua trama, seria um bom episódio de Além da Imaginação ou Arquivo X - aliás, o filme principia como se assim o fosse; mas, o tempo de um filme é longo demais para a história que pretende contar. Todavia, a construção meticulosa da tensão que culmina no clímax é algo que me remeteu diretamente aos contos de H. P. Lovecraft e, talvez por isto mesmo eu tenha me decepcionado com a visão final de um OVNI. Preferia o mistério aquela longa sequência que acompanha o voo da espaçonave. Afora isto, todo o restante é de tirar o chapéu.

Judy - Muito Além do Arco-íris - Judy Garland deu a Renée Zellweger um Oscar, merecidamente! Irreconhecível sob a maquiagem, a peruca e a magreza excessiva, a atriz leva o filme nas costas no que é um recorte da existência triste da atriz de O Mágico de Oz, pontuado por flashbacks que dão conta do tamanho da tortura psicológica a que ela fora submetida, ainda criança, para atender as demandas do estúdio. A mulher envelhecida, insegura e emocionalmente instável é o direto resultado de sua precocidade artística e da exploração igualmente precoce de tal talento - Judy não vive sem a ajuda de toda sorte de medicamentos, cigarros e drinks, escravizada pela persona criada para ela, e da qual ela não vê saída. Um drama ancorado numa atuação de fôlego de Zellweger. Vale a pena.

Tomb Rider - A Origem - Indiana Jones fez mas não pode evitar que os nazistas abrissem a Arca da Aliança; sob essa premissa, Lara Croft é uma jovem inexperiente e teimosa que descobre pistas que podem levá-la a descobrir o que ocorrera a seu pai, desaparecido há anos. Claro, ela toma as piores decisões possíveis - para não dizer as mais burras - e não evita nada. Seu pai, para mostrar de onde veio a inteligência da filha, arrasado pela morte da esposa, gasta rios de dinheiro em busca de uma obscura rainha japonesa ancestral que teria os meios de provar-lhe a existência do sobrenatural, talvez para que ele acredite que a esposa não deixou de existir com a morte. Tentar um centro espírita lhe seria bem mais barato e menos perigoso, por certo. O filme é uma bomba gigantesca como havia muito não assistia, e o destempero e estultice da protagonista é irritante. Um papel indigno da atriz.

Lendas do Crime - É inacreditável que aquela criatura estranha, o clone de Jean-Luc Picard em Star Trek Nemesis um dia se tornaria Bane, e depois Mad Max. Aqui Tom Hardy interpreta os gêmeos Kray, gangsteres londrinos que criaram um império criminoso na Inglaterra das décadas de 1950 e 1960. E como ele se sai? Ele conduz o filme entre interpretações excelentes dos irmãos - Ronnie é um homossexual ao estilo bruto, e um esquizofrênico paranóide. Reggie faz o estilo diplomático, ainda que violento quando necessário. Ambos dão a chance de Hardy mostrar-se entre figuras que em comum têm apenas o fato de haverem dividido o mesmo útero simultaneamente - além, é claro, do pendor e talento para a contravenção e o crime. Gostei bastante.