sábado, 10 de dezembro de 2016

Horizonte de Eventos - 1 ano

Deixei passar a data, mas foi pelo bom motivo de haver ido para a CCXP, além dos preparativos todos envolvendo férias e afazeres próprios destes tempos de final de ano - um esquecimento justificável. Dia 11 de novembro de 2015 foi lançado em Belo Horizonte, na FIQ, Festival Internacional de Quadrinhos, minha primeira HQ, Horizonte de Eventos. 2017 tem mais!


domingo, 20 de novembro de 2016

Livro

Trecho introdutório do primeiro capítulo de um romance que estou escrevendo, de nome provisório Pergaminhos do Arcanjo. Aos trancos e barrancos, de quando em vez, escrevo mais uns trechos;

"Todo dia levantava de madrugada, tomava uma garrafa de café quente, um banho frio e ia pro ponto de ônibus; não apanhava o carro da primeira linha, aguardava o da segunda. Fazia isso pra se encontrar com uma esguia e magra professora em vias de se aposentar, com quem trocava uma conversa aos sussurros e muitos cigarros. Os trinta anos que os separavam não parecia incomodá-los. Entrava porta adentro do coletivo já xingando o motorista – reclamava de tudo e de todos; de sua boca saiam palavras que nem num boteco de região portuária numa sexta-feira à noite se ouviria. Era figura digna de nota. Sempre contava a história do seu alcoolismo e de quando fomentava brigas homéricas nos botecos de defronte ao terminal rodoviário – sempre saia na vantagem, mesmo tendo pouco mais de metro e quarenta e cinco de altura. Baixinho ardido! Internou-se e foi internado diversas vezes, mais de trinta e cinco pelas suas contas, em hospitais psiquiátricos e clínicas de reabilitação para livrar-se do álcool – sem sucesso. Certa feita pediu uma pinga antes do batente; olhou pro copo diante de si, ali parado inocentemente sobre o balcão do boteco. Pensou um pensamento que nunca dividiu, virou-se e nunca mais voltou, nem praquele nem pra qualquer outro boteco, bar, birosca ou pocilga da cidade, ou de qualquer outro lugar. Parou de beber ali, num átimo de segundo – sobraram-lhe as seqüelas, as tremedeiras, a insônia crônica, a hipertensão. Foi dessa última que morreu. Não fosse a bebida, teria morrido milionário – foi o melhor corretor de imóveis da cidade, por décadas. Estava vivendo da aposentadoria; mas não reclamava, não do dinheiro minguado nem do pouco que lhe restara em bens. A família havia se ido há muito. Guardava a satisfação pessoal de poder morar numa casa sua, sem aluguel; era um pensamento que se repetia sempre que notava que a cama de casal era grande demais pra si. Dava de ombros e tentava achar um sono que lhe abandonara na mesma época que uma companhia humana. Seu cão morrera havia mais de dois anos. Não quis substituí-lo; preferiu estar só, embora soubesse que não estava de todo. Naquela manhã em que morreu, apanhou a segunda linha do coletivo no ponto de sempre, xingou o motorista que retribuiu a gentileza matinal, e seguiu pro centro. O ônibus lotou, xingou novamente. Foi descer três pontos antes do ponto final. Caminhou apressadamente até tomar uma ruela estreita. Seguiu por quarenta metros até uma rua sem fim. Caminhou pela diminuta calçada, evitando os paralelepípedos da via, e embora quisesse amaldiçoar que o progresso não houvesse alcançado aquele pedaço velho da cidade, calou o pensamento e tapou a boca. Os casebres antigos se repetiam num mesmo padrão, quebrado pela grande construção do final da rua – um muro enorme e branco se impunha, e o que havia detrás dele apenas um portão de metal, a que foram acrescidas chapas de latão, dava acesso. A chave ele o trazia no bolso, anexado ao molho das suas. A fechadura antiga sempre lhe dera trabalho, mas até o fim, jamais deixou de ir até lá, toda terça-feira de manhã."

Pançudo


terça-feira, 26 de julho de 2016

O curso que não saiu do papel

Horizonte de Eventos foi oficialmente lançado aqui em terras jauenses no dia 15 de dezembro último - conseqüência direta, fui procurado ao longo dos meses que se seguiram por muitos interessados em ter aulas de desenho. Desde o princípio acreditei que Horizonte de Eventos se destacaria mais por seu texto que por sua arte, mas eis que uma HQ é em essência uma história contada por imagens, e uma imagem vale mais que mil palavras, já sustenta o adágio popular. Antes mesmo de ser tão assediado montei um projeto de aulas em parceria com a Secretaria de Cultura local. Mas, os caprichos comuns a política e as cousas públicas no Brasil resultaram numa espera indecente pelos acertos burocráticos, e o início, de fato, deste curso. Diante da iminência do pleito municipal, tal projeto, bem como muitos outros, acabou numa gaveta poeirenta de uma mesa qualquer do patrimônio móvel municipal. Confesso que não fiz caso por isto - desenhar sempre se mostrou um evento fisiológico, não muito diverso de comer, respirar ou piscar os olhos - eis, portanto, a manifestação de um fenômeno natural, desvinculado de qualquer conhecimento da tecnicidade do traço. Dar aulas de desenho sempre se mostrou um desafio, o desafio de traduzir em palavras o piscar de olhos, a respiração, a fome que leva a comer. Difícil? Para minha altivez, sim! O que levou-me a um misto de lisonja e hesitação diante da possibilidade de prosseguir ensinando - o Atelier Garabato não se mostrou uma alternativa viável no nascedouro do novo ano, e ter estado ali para contemplar alguns poucos interessados com o que sei, resultou em momentos positivos, tanto quanto negativos, em igual medida. O diferencial deste novo projeto, além da gratuidade bancada pela parceria com a iniciativa pública, estava em ensinar a desenhar sem referências, ou seja, de imaginação. Algo ainda mais difícil, porque parte desta habilidade é decorrente de experiência de vida, da maturidade do ofício. Em decorrência de tais impeditivos, e para honrar um compromisso não oficial com aqueles que me procuraram interessados em aprofundar-se no conhecimento do desenho, dedicarei uma postagem semanal ao tema. Não é uma aula nos moldes formais, mas pretendo inserir causos e dicas interessantes que podem ser muito úteis para a prática do desenho, e do desenho de imaginação. Até breve!
Adendo em 10 de setembro de 2016 - bem, os afazeres cotidianos se mostraram um impeditivo real para tocar adiante este projeto de criar postagens semanais como pretendido até então. Portanto, estes virão, mas sem uma periodicidade planejada; estarão aos sabores da sazonalidade do dia-a-dia! Abraços.
Adendo a 27 de janeiro de 2019 - a invulgar falta de popularidade deste blog poupou-me de qualquer sorte de cobrança quanto as postagens relativas a esta empreitada. A bem da verdade, qualquer um pode aprender a desenhar por seus próprios esforços. Tendo em vista os modernos meios de se obter o conhecimento técnico para tanto, em tutoriais do Youtube por exemplo, este desejo se torna ainda de mais fácil realização. Não descartei completamente a possibilidade de dar aulas - o futuro é uma incógnita. Abraços (como se alguém lesse).

domingo, 3 de julho de 2016

Como em 1978...

Foi uma escolha pessoal não criar longos textos neste espaço, afinal, é apenas uma vitrine para o meu trabalho como desenhista, e não o blog de um crítico - seja lá do que for. Mas, se parte de mim chegou até este ponto é porque muitas influências foram absorvidas desde sempre, e Superman é inescapável em sua encarnação na pele de Christopher Reeve. Mais ainda ao revê-lo nos dias atuais, e notar que mantém intacta sua força e magia. Esta visão da personagem e seu mundo, criada por Richard Donner, é tão onipresente que as duas tentativas de relançá-lo no cinema resultaram em remakes disfarçados de novas iniciativas. Bryan Singer em 2006 com Superman o Retorno fez uma releitura daquele universo de 1978, contando a mesma história de um Lex Luthor que quer dar um golpe imobiliário, matando o Superman como bônus. Até a trilha sonora composta por John Williams, que tornou-se um hino da personagem, foi utilizada no filme. Não funcionou com o grande público, menos ainda com os fãs. Em 2013, o diretor farsante Zack Snyder lançou sua versão do Superman em Homem de Aço. Mais do que alterações pontuais no sentido de atualizar o último filho de Krypton para as novas plateias, a idéia aqui é dar início a um universo cinematográfico compartilhado, a exemplo do que a Marvel Studios vem fazendo desde 2008. Mas, a comparação com Superman II A Aventura Continua de 1980, é inescapável, já que temos o Superman em confronto com seus conterrâneos liderados pelo ditatorial General Zod. Espanta que ninguém tenha buscado dar vida a Brainiac, Metallo, Parasita ou outro dos muitos inimigos do universo em quadrinhos do Superman. Novamente a sombra dos filmes com Christopher Reeve se impõe, e eclipsa a nova versão, principalmente quando a mudança maior não é a trilha sonora, ou o protagonista que dispensa a cueca vermelha, mas o ethos do Superman. Ethos possui diversos significados na origem, mas para o teatro é o conjunto de características que torna um personagem o que ele é, e o Superman de Snyder não é o Superman, e o problema vem de berço, do berço humano para ser mais claro - Jonathan Kent é o martelo para quem o filho adotivo é um prego a ser afundado na areia movediça da sua própria insegurança paterna. Para ele, o filho tem uma missão, que se cumprirá num futuro hipotético que jamais chega; qualquer manifestação precoce das habilidades do jovem Clark Kent é rechaçada com violência - não há conselho sábio, apenas ressalvas que flagram a insegurança e o medo. Resultam num Superman novato, inseguro, incapaz de alcançar um consenso maduro acerca de quem é, e de como deve agir. Comparadas as mesmas situações do filme de 1980 e deste de 2013, o Superman de agora precisa forçosamente transformar Metrópolis num amontoado de escombros sobre os cadáveres de seus conterrâneos kryptonianos, a fim de rivalizar com a destruição de Os Vingadores, lançado um ano antes pela Marvel. Levar seus inimigos a um local desabitado para evitar a morte de algum desavisado pego no fogo cruzado de socos supersônicos é um detalhe, o detalhe fatal de mata o personagem, e o seu cadáver trajando azul e vermelho se torna uma locomotiva indestrutível de imatura paixão e raiva - se Zod tivesse as feições de Jonathan Kent o Superman teria destruído o planeta inteiro. Porém, o papai terrestre de Kal-el foi engolido por um tornado, diante do filho superpoderoso que nada fez - exemplo de pai que imprime no filho a insegurança com as tintas fortes da culpa. É um Superman que convence diante da imagem indelével de Christopher Reeve, que a seu turno atuou de maneira diversa, evitando a destruição de Metrópolis? Para deixar claro ao público que não se trata mesmo do Superman, Zod tem seu pescoço partido por este numa cena que pareceu confirmar que os roteiristas jamais compreenderam o material com o qual estavam lidando. O que resta? Um Superman novato, o café-com-leite da turma, o sujeito de quem se escarnece das idéias e da falta de humor próprio, o ingenuo originado de uma sucessão de casamentos consanguíneos que demonstra um certo atraso mental, um caipira todo força e nenhum cérebro - é esse o personagem que chega a Batman vs Superman A Origem da Justiça. Tanto mais ele não convence na versão estendida do filme, em que há um Clark Kent seguro na persona de jornalista investigativo frente a um Superman inseguro que apanha da opinião pública, apanha do Batman, apanha do Lex Luthor, apanha do Apocalipse e acaba morto por este no final. Crítica e público, com toda razão, espinafraram o filme. O Batman aqui apresentado padece do mesmo problema de descaracterização, e o detetive frio e cerebral dá lugar a algo semelhante ao Superman, todo raiva e nenhuma capacidade racional. Não fosse a aparição relâmpago da Mulher Maravilha, esta também seria qualquer cousa, menos a Diana Prince que conhecemos. Já o Lex Luthor de Jesse Eisenberg faz recordar Heath Ledger ao interpretar o Coringa, até o momento em que é preso e passa a se comportar com um Renfield de Drácula, apenas um arauto louco de Darkside, ou antes do sogro deste, o Lobo da Estepe, já escolhido vilão do vindouro filme da Liga da Justiça que, admira, terá direção de Zack Snyder. O que se verá? Nada que faça lembrar a magia de Christopher Reeve voando em 1978, certamente. Não era minha intenção um texto tão longo, mas aconteceu, e aconteceu por conta da importância do Superman para minha formação como desenhista e quadrinista; mas não apenas ele, como todo o universo donde está inserido. O amadorismo e a falta de reconhecimento dos que trabalham com tão diverso e rico material resulta nas imensas críticas que se seguiram ao lançamento do segundo filme do universo compartilhado da DC, e no lamento dos fãs cujas expectativas são frustradas após anos de espera, imaginando que tanto dinheiro seria melhor utilizado por mais competentes produtores e diretores. Quem, na condição de fã e quadrinista não imagina um começo mais promissor para o universo DC no cinema? O que se viu até o momento, destarte, alcança o status de reação a Marvel Studios - apenas isto pode explicar que se comprometa o ethos das personagens com tamanha sem cerimônia, na pressa de compensar anos de inércia, apenas observando, filme após outro, a bilheteria da concorrência pulverizar a sua própria. Que a Warner e a DC despertem para o que quer o público, do qual faz parte os fãs que há anos acompanham tais personagens. Abraços.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Troféu HQ Mix

Esta semana o blog do Troféu HQ Mix - com justiça considerado o Oscar dos quadrinhos nacionais - divulgou a listagem com os lançamentos do ano passado. Não é senão arrolar numa imensa listagem por categorias de premiação tudo quanto veio a luz em 2015, ou seja, sou pré-candidato a candidato a ganhar um troféu HQ Mix. Pouco? Ainda bem - nem de longe tenho a pretensão de acreditar que Horizonte de Eventos mereça tal laurel. Levando-se em conta os trabalhos passados já ganhos, meu trabalho não fica a dever em nada, mas não possui a "perfeição" que espero que meus quadrinhos futuros possuam, estes sim mais pretensiosos e melhores candidatos a entrar num páreo sério para abocanhar o prêmio. Muito? Sem dúvida! Significa que espontaneamente alguém se recordou de Horizonte de Eventos. Para mim foi uma grande vitória, a justa paga deste trabalho que teve suas muitas dificuldades para vir a lume, mas cuja experiência ensinou demais. Agradeço aos organizadores do troféu, e aos que torcem pelo sucesso desde desenhador louco! Abraços a todos!

P&B


Psicodelia


Elas



quarta-feira, 6 de abril de 2016

O dia seguinte

O que tenho a registrar há de despertar o interesse de alguém? Faço tal questionamento porque tenho estado sem paciência para acompanhar todos os rounds do embate entre direita e esquerda - acompanho muitos que, de repente, tomaram gosto pela discussão política, e têm feito do Facebook seu palanque de exposição de idéias. Não tenho, em absoluto, nenhum demérito a apontar quanto a isto, já que de minha parte usei do mesmo espaço, com muito menos vontade de discutir e denunciar do que já tive um dia. Resguardo meu indicador para o lápis e minhas palavras para o que tenho considerado mais importante para o momento. Aliás, a razão desta postagem se resume a isto, uma prestação pública de contas, principalmente àqueles que me conheceram faz pouco, e que o fizeram na seara das artes, havendo apostado no projeto Horizonte de Eventos, apoiando-o através do site Catarse de financiamento coletivo, aos que adquiriram a HQ, aos que observaram de longe e torceram em silêncio, também aos que me ombrearam na última edição da FIQ, evento que escolhi para lançar o projeto; enfim, a todos que, repentinamente, voltaram seus olhos para mim neste último ano, havendo encontrado algo interessante aí, ou não! Como quadrinista independente, mas, como marido e pai, tenho a arte como projeto paralelo de vida - e não vou tomar tempo enumerando as razões disto. Gostaria de trabalhar exclusivamente na área? Claro. Porém, no momento é impossível - tanto quanto buscar acompanhar o calendário de eventos voltados para o setor. Estes exigem planejamento, tempo e dinheiro. Parte do planejamento deve considerar o custo/benefício da minha presença em localidades distantes e dispendiosas, cujo evento atrativo se resume a uma visibilidade pequena nos poucos dias em que é realizado. O conjunto de tais salões, festivais, feiras e que tais me pôs de retorno ao divã da analista - hipoteticamente falando, claro! Fiz quatro anos de análise, e não considero ético da minha parte importunar a grande profissional que me ajudou com questões exaustivamente tratadas em consultório. Ela me ajudou a compreender e a alcançar uma síntese que resumo com a simplicidade com que alcancei um lápis e senti prazer ao desenhar, lá na primeira infância - é preciso não perder o foco disto, neste prazer, tanto quanto na razão de ser capaz de imaginar histórias que mereçam ser contadas através de uma HQ. Não posso, nem devo, me violentar na busca por um ideal artístico que, talvez, o mercado considere mais profissional, ou mais a favor do zeitgeist atual, e não conseguir. Não vou me prestar a fazer uma pesquisa de mercado para saber o que preferem os que leram Horizonte de Eventos, ou aqueles que de quando em vez deparam com uma arte minha no Facebook, comentem ou não, curtam ou não. Ceder ao mercado é parte do sacrifício de todo artista no interesse de poder trabalhar com o que sabe fazer, mas onde há mercado para mim? Nasci, cresci e habito uma cidade que considero o túmulo da cultura sob diversas formar, e ainda que haja iniciado uma caminhada para fazer-me conhecido para além de suas fronteiras, testemunho um cenário, e não um mercado. Meu exemplo é o de milhares, talvez centenas de milhares, que paralelamente a uma vida profissional maçante, buscam desenvolver uma atividade artística e cultural que, acima de um lucro que não se sabe se um dia virá, deve trazer prazer! Horizonte de Eventos foi integralmente confeccionada sobre o tampo de mármore redondo de uma mesa de cozinha, com três cadeiras em seu derredor, porque não há espaço para caber a quarta! Admira que, diante de tantos em tal semelhante situação alguns elementos componentes do escopo da exceção, comprobatória da regra, sejam tão pernósticos e assumam uma atitude de desprezo para com o novo - e não aponto isto como resposta por conta de alguma crítica negativa recebida. Pelo contrário, Horizonte de Eventos, aos que se propuseram a lê-lo e que contatar após, gerou elogios. Faço este pequeno parentese por conta do que vi e senti na pele - a sociedade brasileira é desunida como um todo, e não seria diferente num segmento ainda pouco visível da expressão artística nacional como o dos quadrinhos independentes. Mas, de retorno ao mote, a atitude do momento é do prazer do traço, da composição do roteiro a última gota de nanquim pingada no papel. Alguns eventos hão de aguardar por minha presença, e farei questão de comparecer, enquanto outros serão devidamente prestigiados em momento mais oportuno. Horizonte de Eventos foi apenas um começo, e muito está por vir - se você que lê destas linhas um dia verá e lerá tais histórias? Não sei! Esta é uma questão, assim como outras mais que circunvizinham o momento presente, que esperam resposta no dia de amanhã, e o amanhã ainda não aconteceu. Abraços e obrigado pela paciência.

domingo, 13 de março de 2016

Contraste


Gipsy girl


Dog


Casual


A vênus-licantropo


Horizonte de Eventos - capa


Facebook e seus 'mimimis', ou essa mediocridade que nos limita a todos

Estava demorando, mas fui denunciado numa comunidade do Facebook, da qual participo apenas por questões de ordem profissional - HQ-Roteiristas Procuram Desenhistas (e vice-versa). Seu criador e moderador, um senhor de nome Estevão Ribeiro postou o seguinte texto na comunidade:

"Pessoal, ontem recebi a primeira denúncia de conteúdo considerado impróprio aqui, por mostrar uma genital. Isso fere sim as regras gerais de comunidade do Facebook, mas nunca havia levado em consideração se isso devia valer aqui. O post foi do Ricardo Foganholo Pavan, e a pessoa que denunciou podia ter falado diretamente no post, apelando para a consciência do que partir diretamente para a denúncia. Particularmente acho a história de mau gosto, e o que fiz foi não curtir, não comentar por falta de tempo, mas eu, na qualidade de criador e moderador deste grupo, não impediria o cara de postá-lo. A pessoa que denunciou fez algo nunca feito nesta página antes, até porque ela é composta por profissionais e aspirantes a produtores de histórias em quadrinhos. Espero que denúncias assim não se repitam. Por outro lado, não sou partidário de posts polêmicos aqui. Temos um bocado de gente com gostos e idades variadas aqui. Qualquer link para histórias com algum aviso sobre seu conteúdo é bem-vindo: avisar que tem nudez, falar de gênero (fantasia, terror, humor, erótico) a fim de evitarmos notificações. Cada lado faz sua parte. Nunca pensei que teríamos uma denúncia de conteúdo impróprio numa página de conteúdo artístico."

Não me responsabilizo pelos erros deste texto, mas me responsabilizo pela postagem que o gerou, ao qual meus leitores aqui do blog saibam tratar-se da série recém-iniciada Alfa & Ômega, em específico o segundo exemplar desta. Para a comunidade respondi o seguinte:

"Olha caras, fiquem tranquilos! Eu estou dando o fora da comunidade por algumas razões a enumerar - 1) Se fosse o Dr. Manhattan peladão aqui, ninguém ia dar a mínima; 2) Sou diametralmente contra o politicamente correto; 3) quem denunciou não sabe o que está fazendo nessa comunidade, porque a arte desde sempre lidou com nudez - eu não desenhei uma dupla-penetração brutal, ou algo do gênero; 3) o Estevão Ribeiro achou a história de mau gosto, o que demonstra completa falta de bom humor em relação ao que pode ser produzido em termos de HQs, tanto roteiro quanto desenho, e uma inclinação clara ao politicamente correto que repudio, e... 5)... isso me leva a crer que poderia fazer um trabalho melhor como moderador dessa comunidade, quanto qualquer outra, o que me leva a deixá-los à vontade pra prosseguir com suas atividades corriqueiras - permanecerei por aqui ainda por mais algum tempo para que esta mensagem seja lida, e depois me vou. Abraços aos que apoiaram e me procuraram em particular, e vá a merda quem denunciou!!!"

Fiz um adendo ainda, pedindo que o denunciante o fizesse mais uma vez, desta feita denunciando uma foto que postei, do discreto genital do Davi de Michelangelo. Até esta postagem não obtive qualquer resposta, o que seria de irrelevante importância, porque, afinal de contas, como postei na comunidade, a arte lida com nudez desde sempre. Desde as vênus pré-históricas com suas enormes proporções, até a arte erótica das HQs europeias atuais, é de admirar que alguém não saiba lidar com um pênis desenhado - e pequeno por conta do contexto do roteiro. Pode-se aventar uma série de razões pelas quais uma pessoa agiria desta forma, mas uma certeza se revela: não é alguém que deveria devotar seu tempo a arte, menos ainda fazer parte de uma comunidade destinada a arte. Pode-se argumentar, como o fizeram, para as idades variadas dos participantes da comunidade, o que também não convence - os primeiros nus e a necessidade de apreciá-los e desenhá-los se deu em minha vida vários anos antes da puberdade, tornando-se parte do meu cotidiano com a naturalidade de uma função biológica qualquer. O artista que não sabe lidar com a nudez não apenas não é artista, como não deve sequer buscar sê-lo, pois há um impedimento psicológico importante a ser tratado. A formação deste suposto artista denunciante possui um hiato importante, e impedidor nevrálgico ao seu progresso pessoal e profissional. Pode-se, por puro exercício especulativo, supor que este denunciador agira levado pelo incômodo do roteiro, que o criador e moderador da comunidade desgostou afirmando ser de 'mau gosto'! Admira que um moderador de uma comunidade devotada a uma forma de arte tão plural se proponha a opinar inconsequentemente acerca de um exemplar da mesma, postada num espaço que deveria, por definição conceitual, ser cosmopolita e liberta de grilhões conservadores e politicamente corretos. Como afirmei, estava demorando para que algo de tal natureza ocorresse - e tenho cá comigo, num comichão de alma, que esta comoção se deveu a liberdade do roteiro, a abordagem do assunto e ao impacto que causa no conservadorismo, e em todas as suas expressões, como o machismo, o racismo e a homofobia veladas. Nem por um segundo penso em parar de abordar o assunto que for nesta série, até porque esta postagem tem a razão de ser um aviso claro aos agentes do retrocesso social que vem sofrendo nossa sociedade, e ao fato de os extremismos, o radicalismo e o fanatismo, seja ele expresso pelos opressores históricos de sempre, seja pelos oprimidos históricos que agora esperneiam seus 'mimimis', devem, eles sim, se calarem. Calarem diante do que não compreendem, do que sua cultura limítrofe não alcança, do que lhe fere porque não foram suficientemente esmerilhados pela vida. Quanto a esta comunidade que deixo, está claro que ela não expressa a abertura artística devida, impedindo o encontro proposto de roteiristas com desenhistas e vice-versa. Quanto a seu criador e moderador, faço um apelo para que este reconsidere a natureza e objetivos desta comunidade, tanto quanto a maneira com que lidou com tal entrevero, a fim de fazer alcançar um ponto proeminente superior para esta reunião do que se supõe serem artistas. Abraços ao livres de pensamento!

Alfa & Ômega 2


B. B. King


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Busty Dusty


Tin Tin


Pasargada


Leitora


Patricia Guerrero


Elis Regina


Dylan Dog