sábado, 30 de maio de 2020

Cinema em Poucas Linhas #8


A Forma da Água - Deram um Oscar a esse filme; pior para a premiação que fica cada dia menos prestigiosa e menos prestigiada. Guillermo del Toro merece um Oscar por O Labirinto do Fauno, mas jamais por esse filme. O tom de fábula não se sustenta, e a estética chupada de Jean-Pierre Jeunet beira o pastiche! Causa uma certa vergonha alheia a jactância do diretor em lançar algo de tal espécie, uma releitura pretensiosa de O Monstro da Lagoa Negra misturado a Splash! Uma Sereia em Minha Vida. Só não é menor a vergonha tendo em vista as análises dos críticos - uma adulação sem medida a um filminho bem aquém do que o diretor é capaz..


Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância - Tiraram o Oscar de Michael Keaton e o deram a Eddie Redmayne; chega a ser preguiçoso ganhar por interpretar alguém com a degeneração física a que Stephen Hawking fora submetido por décadas de sua existência, graças a ELA. Michael Keaton oferta camadas e mais camadas interpretativas de um papel que, a bem da verdade, soa como uma metáfora de sua própria carreira. Alejandro Iñárritu merecia um prêmio apenas pela escalação de elenco - todos inspiradíssimos ao interpretar pessoas envolvidas com a realização de uma peça, filmado num plano sequência imersivo sem igual. Filme inesquecível.


Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa - Margot Robbie tem tanta fisicalidade neste filme que em certas tomadas parece um menino com uma peruca da Xuxa, dos tempos em que ela era a Rainha dos Baixinhos. Há essa mão pesada da bandeira feminista que insiste em torná-la menos sexual - resulta numa androginia vista principalmente nas cenas de ação, executadas pela atriz em grande parte. Além disto, o filme é genérico e aparentado de Esquadrão Suicida, o que é já um grande demérito, que apenas se acentua tendo em vista o recente Coringa. Numa tarde de chuva, isolado pela pandemia, sem ter muito mais o que fazer, é uma opção inócua que vale pela pipoca.


X-Men Fênix Negra - A Fox é um caso de amor é ódio; amor por que trouxe os dois primeiros filmes dos X-Men, lá no começo do século - e ódio por que não soube muito bem o que fazer com eles depois disso. Quase se refez com X-Men Primeira Classe, mas acabou pondo tudo a perder em seguida. A trilogia do Wolverine, então, é nada menos que grotesca. X-Men Fênix Negra é aquele prego que entrou fácil pra fechar o tampa do caixão da franquia. Tentando fazer uma adaptação decente da saga da Fênix Negra, algo que fora tentado em X-Men O Confronto Final, este filme tem ainda os mesmos vícios dos anteriores, o que já o faz comprometido desde o primeiro segundo. Um fim triste para essa franquia, infelizmente.


Jojo Rabbit - Thor Ragnarok é tão colorido e divertido quanto Guardiões da Galáxia vol. II; se o que os iguala também é o humor, o que os distingue é todo o resto. A terceira aventura do Deus do Trovão traz um tom mais arejado ao personagem e seu universo, enquanto a segunda aventura de Peter Quill e sua trupe é apelativa e galhofeira em diversos momentos. Por isso esperava algo maravilhoso de Jojo Rabbit, dirigido pelo mesmo Taika Waitit de Thor. Mas a saga de maturidade de um garoto alemão em pleno regime nazista é de dar sono. O humor não vem quando deveria, e o drama vivido pela protagonista não empolga, não sensibiliza e demora a engrenar - o filme parece ter cinco horas mais ou menos. Enfadonho e desnecessário.


O Exterminador do Futuro Destino Sombrio - Alguém pare essa franquia, por favor! A ressurreição de Sarah Connor não poderia ser mais humilhante para Linda Hamilton senão quando divide a cena com Mackenzie Davis. O problema da viagem no tempo está todo ele exposto nesta saga. Quando a tecnologia para tanto se vulgariza, qualquer situação é possível, e a lógica salta pela janela. De Volta para o Futuro é o que é por que havia senão um capacitor de fluxo, e apenas um homem capaz de o conceber. Quando o Delorian caiu em mãos erradas, Biff fez um futuro a seu gosto. Mas quem a lição aprendeu? Exterminador do Futuro é esse atentado ao bom senso, que macula o bom gosto e a paciência do expectador. A história aqui? Quem se importa? É aquele velho clichê de sempre - absolutamente esquecível, menos por Mackenzie Davis, a única que sai ilesa.


Ameaça Profunda - As profundidades oceânicas da Terra me são mais instigantes do que aquilo que se esconde no espaço profundo; provavelmente porque a ameaça está aqui ao lado, embora pareça completamente alienígena. No entanto, não há filme que consiga emular o efeito do filme Alien, e este se esforça, mas acaba genérico. Um a um, todos vão morrendo e alguém se salva no final, ainda pondo fim a ameaça. Básico e ao rés do solo - esquecível.


Parasita - filmes que nos deixam a beira da poltrona, presos pela tensão de um clímax que desde o início se anuncia trágico - eis Parasita. Leituras mil foram feitas já deste filme, desde seu apuro técnico exemplar e irretocável, até a metáfora da história que conta, da dicotomia entre ricos e pobres, dos abismos sociais, etc. Fato é que a família pobre que busca meios, nem sempre honestos, de sobrevivência frente a família rica que poderia ser mais inteligente, esperta e empática cria um baile de máscaras em que a verdade é sempre feia, grotesca e eminentemente humana. O filme é um tapa na cara e um murro no estômago ao mesmo tempo. Sublime.


Dunkirk - Christopher Nolan dirige um filme de guerra que nem mesmo parece seu; as explicações excessivas dão espaço as explicações necessárias e só. O resto é cena de ação, nem sempre com o resultado mais empolgante do mundo, entremeado pela recriação da evacuação de mais de 300.000 soldados britânicos do norte da França, encurralados por uma divisão panzer alemã, durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Linhas narrativas paralelas se convergem em certo momento, com um resultado apenas morno. Outro filme do Nolan que não me fez a menor diferença. Próximo.


1917 - Dois soldados britânicos precisam atravessar a França tomada por alemães durante a Primeira Grande Guerra Mundial, a fim de evitar um ataque de suas tropas que pode comprometer mais de 1600 vidas, poupando assim o irmão de um deles. Num plano sequência muito bem feito, o diretor Sam Mendes conta esta história que teria sido baseada em fatos reais, passados com seu avô. Independentemente deste fato, a obra não me conquistou - todo o esmero está lá, em cada frame digital, na recriação de época, no drama humano em meio a guerra, mas talvez o filme me haja encontrado sem o espírito preparado para o que propunha. Achei tão morno quanto a obra do Nolan.

2 comentários:

Gui Fogan disse...

A forma da água achei uma tosquice sem fim, um Splash com Free Willy de dar dó, especialmente quando notamos, de fato, a pérola que é O Labirinto do Fauno. E o que é aquela cena do anfíbio dançando, aff, que porcaria.
Birdman, quando assisti, achei muito bom, mas pouco lembro dele agora. Preciso rever.
Jojo Rabbit: esperava muito desse filme. A premissa de Hitler como uma espécie de amigo imaginário é maravilhosa. Nas mãos de um melhor roteirista, isso é o que seria bem aproveitado e desenvolvido. Foi isso que esperei o filme inteiro, e a maior parte dessas cenas é o que de melhor há no filme. Encontraríamos espaço para um certo humor desafiador, ainda mais politicamente incorreto (que é o termo da moda), e a influência de Hitler no psicológico do menino à medida em que crescia poderia mudar o tom do filme, no começo de um humor pueril, para, após, um drama bastante sombrio e carregado. Mas chega a um ponto em que o filme simplesmente vira uma película genérica da Segunda Guerra Mundial, narrativa que você já viu no cinema um milhão de vezes. Meio chulé esse filme.
Parasita gostei e não gostei. A história é muito boa, muito mesmo, a tensão é exemplar, fiquei sem piscar em todas as cenas. Até a metade achei ótimo. Metade para frente achei de uma falta de verossimilhança atroz. A ideia de bunker achei meia-boca, e aquela patifaria de correr pra cima e pra baixo para não serem descobertos pelos patrões, com surras escandalosas e performáticas simplesmente não me convenceram. Acho meio excessivo o estilo do diretor, haja vista O Expresso do Amanhã e Okja. É tudo muito. Pensei faltar uma sutileza ainda maior, mas, ainda assim, é um grande filme digno de Oscar. Verifiquei a maior parte das críticas e pelo jeito sou só eu que não achei a sétima maravilha do mundo.
Aos demais filmes ainda não assisti.
Gosto de suas análises cinematográficas!
Abração, primo! E cadê sua nova HQ????

Ricardo Foganholo disse...

Oi primo!
Filmes orientais contam com um certo exagero, e Parasita não é diferente de outras obras que vi, deste e de outros diretores, tanto coreanos quanto japoneses. Assistir tais filmes com isso em mente ajuda na suspensão da descrença e a experiência se torna prazerosa. A ideia do bunker foi justificada, e dentro do contexto sul-coreano faz todo sentido - não é diferente de alguns filmes americanos da época da Guerra Fria, onde era fácil encontrar residências com porões ou bunkers equipados para enfrentar o isolamento decorrente de ataques nucleares. Você não gostou de Parasita? Não tem nada - eu abomino Matrix, e acho Vingadores Ultimato o pior filme já feito; mas todo mundo acha essas duas obras magníficas.
HQ? Até sai, mas sem publicação prevista; produção independente? Menos! É preciso muito dinheiro pra pouco retorno. Quiser lhe mando as páginas prontas ora que estiver tudo escaneado pra você ler.
Abraços! Beijos na esposa e na filhinha!