sábado, 4 de julho de 2020

Cinema em Poucas Linhas #9


Titan - Sam Worthington não dá sorte; desde Avatar virou o ator certo para a próxima bomba a surgir nos cinemas, ou nesse caso na telinha da Netflix. Aliás, a servidora de streaming é a empresa certa quando o cineasta tem uma ótima ideia, mas não sabe como executá-la - é uma porcaria atrás da outra, sempre desperdiçando premissas interessantíssimas. Eis o caso de Titan, em que um bando de casca-grossas das forças armadas se candidatam a um experimento biológico que vai facultá-los a viver em Titã, satélite natural de Saturno. Claro, porque tão longe, tão inóspito e tão surpreendente para as cobaias humanas quando começam a ter reações estranhas, são questões que o filme não responde. Quando Sam vira um bichão pavoroso que eu teria medo de encontrar à noite numa rua escura, a bomba já não sabe se explode como filme de suspense, ação ou ficção-científica. Próximo.

Close - Noomi Rapace é uma deusa entre fungos; qualquer filme com ela vou assistir, não interessa o tamanho da bomba - e aqui ela demonstra a sua dimensão, levando a trama nas costas com uma presença magnética, do início ao fim. Salva a história de uma herdeira bilionária sob ameaça de morte que ela, uma segurança particular, tem de proteger? Claro que não, afinal é Netflix; mas, por Deus, que atriz. O plot é esse aí, e quando parecia que ia deslanchar, resolve-se sem mais nem menos, e a subtrama da personagem que ela interpreta fica no ar. Um verdadeiro coito interrompido, num filme em que toda energia está unicamente em sua protagonista.

Doutor Sono - Sequer sabia que Stephen King havia escrito uma sequência para O Iluminado, mas ainda bem que escreveu. Achei esse filme estrelado por Ewan McGregor mais legal que o filme a que presta homenagem como continuação, aquele mesmo que tornou-se clássico por ter sido rodado pelo diretor fetiche Stanley Kubrick. Inclusive encontraram um sujeito para reviver o papel que fora então de Jack Nicholson. Doutor Sono se equilibra na tênue linha entre focar no livro ao qual adapta e ser uma continuação da obra de Kubrick - e não é que consegue? E consegue com honras! Um bando de vampiros de vapor, que sugam a iluminação dos que a tem, cruzam o caminho do crescido Danny Torrance e sua nova amiga muito mais poderosa que ele, a garotinha Abra Stone. Ah, e tem a Rebecca Ferguson sensacional. Recomendo!

It a Coisa (ambos os filmes) - Um alienígena, ou ser transdimensional vindo do espaço cai no que se tornaria uma cidadezinha americana interiorana e, a cada 27 anos ataca as crianças do lugar, disfarçado de palhaço, seviciando-as para alimentar-se de seus medos. Obviamente, quem conhece o catatau de 1200 páginas que compõe o livro escrito por Stephen King sabe que dois filmes não dariam conta de atar todas as pontas soltas e questões irresolutas resultantes desta adaptação. Mas ainda assim é um filme caprichado, embora eu tenha, indo contra a opinião geral, preferido o segundo ao primeiro filme. Mas, está longe de ser aquela maravilha toda - apesar da boa composição de personagens, a quase ausência de autoridade e a figura adulta retratada sempre com negatividade é um ponto incredível da trama; tanto quanto uma série de outros furos aparentes, que uma mini-série da obra daria conta de cobrir melhor.

A Vastidão da Noite - Filme redondo? Quase, ao menos para mim. Há quem ache fraco, e de fato, se pensado exclusivamente por sua trama, seria um bom episódio de Além da Imaginação ou Arquivo X - aliás, o filme principia como se assim o fosse; mas, o tempo de um filme é longo demais para a história que pretende contar. Todavia, a construção meticulosa da tensão que culmina no clímax é algo que me remeteu diretamente aos contos de H. P. Lovecraft e, talvez por isto mesmo eu tenha me decepcionado com a visão final de um OVNI. Preferia o mistério aquela longa sequência que acompanha o voo da espaçonave. Afora isto, todo o restante é de tirar o chapéu.

Judy - Muito Além do Arco-íris - Judy Garland deu a Renée Zellweger um Oscar, merecidamente! Irreconhecível sob a maquiagem, a peruca e a magreza excessiva, a atriz leva o filme nas costas no que é um recorte da existência triste da atriz de O Mágico de Oz, pontuado por flashbacks que dão conta do tamanho da tortura psicológica a que ela fora submetida, ainda criança, para atender as demandas do estúdio. A mulher envelhecida, insegura e emocionalmente instável é o direto resultado de sua precocidade artística e da exploração igualmente precoce de tal talento - Judy não vive sem a ajuda de toda sorte de medicamentos, cigarros e drinks, escravizada pela persona criada para ela, e da qual ela não vê saída. Um drama ancorado numa atuação de fôlego de Zellweger. Vale a pena.

Tomb Rider - A Origem - Indiana Jones fez mas não pode evitar que os nazistas abrissem a Arca da Aliança; sob essa premissa, Lara Croft é uma jovem inexperiente e teimosa que descobre pistas que podem levá-la a descobrir o que ocorrera a seu pai, desaparecido há anos. Claro, ela toma as piores decisões possíveis - para não dizer as mais burras - e não evita nada. Seu pai, para mostrar de onde veio a inteligência da filha, arrasado pela morte da esposa, gasta rios de dinheiro em busca de uma obscura rainha japonesa ancestral que teria os meios de provar-lhe a existência do sobrenatural, talvez para que ele acredite que a esposa não deixou de existir com a morte. Tentar um centro espírita lhe seria bem mais barato e menos perigoso, por certo. O filme é uma bomba gigantesca como havia muito não assistia, e o destempero e estultice da protagonista é irritante. Um papel indigno da atriz.

Lendas do Crime - É inacreditável que aquela criatura estranha, o clone de Jean-Luc Picard em Star Trek Nemesis um dia se tornaria Bane, e depois Mad Max. Aqui Tom Hardy interpreta os gêmeos Kray, gangsteres londrinos que criaram um império criminoso na Inglaterra das décadas de 1950 e 1960. E como ele se sai? Ele conduz o filme entre interpretações excelentes dos irmãos - Ronnie é um homossexual ao estilo bruto, e um esquizofrênico paranóide. Reggie faz o estilo diplomático, ainda que violento quando necessário. Ambos dão a chance de Hardy mostrar-se entre figuras que em comum têm apenas o fato de haverem dividido o mesmo útero simultaneamente - além, é claro, do pendor e talento para a contravenção e o crime. Gostei bastante.

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