domingo, 3 de novembro de 2019

O 'religiosismo' da cultura pop

A única rede social que utilizo é o Facebook; porque? Porque me faz recordar o Orkut. Sim, o velho, bom e extinto Orkut! Lá fui expulso de um sem número de comunidades pretensamente espíritas, apenas e por simplesmente pôr Allan Kardec na mesa de discussões - não há quem haja suportado a limpidez do Espiritismo em sua origem; caíram chicos, emmanueis, ramatises, armonds, etc., e os seus sequazes plenos de ódio. Tais altercações acaloradas ocorreram por conta da plataforma permitir e, por ser necessário desmistificar tudo quanto era (e persiste sendo) divulgado como se Espiritismo fosse; e isto lá em 2006. Mais de uma década se passou, e o pendor pessoal para esmurrar pontas de faca já se perdeu há muito. O ódio instilado pelas redes sociais o conheço bem, e sei que surge ao menor movimento, a mais imperceptível e inocente mensagem. Pois bem, nesta semana, partícipe da comunidade do site Omelete na citada rede social, referi-me a campanha dos estúdios Marvel para fazer de seu filme Vingadores Ultimato um candidato a premiação do Oscar em 2020 de maneira irônica - afirmei que a película deveria concorrer na inexistente categoria de melhor queijo-suíço cinematográfico - não precisava ser mais explícito quanto as minhas considerações acerca desta obra dos irmãos Russo. Todavia, fora divertido observar as reações patéticas de alguns dos demais participantes da comunidade, me outorgando uma autoridade que, de fato, não possuo - postei meu texto acerca das razões pelas quais não gostei do filme na comunidade, deixando claro que ali se encontrava minha visão e que não estava aberto para discussões, mas foi como atear fogo a um campo de petróleo. Um tentou me desautorizar, não se apercebendo que ao fazê-lo tomava minhas palavras com a força de uma lei; outro apanhou ponto por ponto o que escrevera e lançou suas tréplicas, buscando instilar meu espírito solidário ao pedir a leitura como uma troca de gentilezas, já que havia dado seu tempo a apreciar meus escritos. Risível - quando o espírito não quer, não quer e pronto! Apaguei minha postagem original, eliminando todo o ódio que se seguiu - mas este último, um tal de Marco Aurélio não sei das quantas, postou suas respostas diretamente neste blog, a fim de garantir que minha boa vontade não lhe faltasse. Deletei sem ler - porque? Por que não interessa - quando jovem nerd, todo o ódio e competitividade acéfala me era cuspida à face apenas por conta de tal condição; os valentões não se interessavam pela cultura pop - HQs era cousa de criança, filme só importava os de ação e artes-marciais, leitura de livros era atividade de caráter feminino, etc. Hoje a cultura nerd e a valorização da cultura pop é quase universal, o que é bom e ruim - é bom por que há mais dinheiro, zelo e carinho investido em produzir obras de qualidade, em contrapartida cria-se uma demanda numa linha de produção que dá origem a muito material ruim. Mas, talvez o pior aspecto disto é ver os novos nerds comportarem-se como os valentões da minha infância - todos querem ter razão todo o tempo acerca de toda manifestação cultura pop surgida; razão e primazia, aliás. É preciso ser o primeiro, o melhor e a autoridade máxima. É uma postura burra sob quaisquer aspectos. O mundo nerd e a cultura pop tornaram-se religião; as redes sociais são o púlpito da pregação e as discussões são o mote para se tecer sermões sacerdotais em que se disputa quem sabe mais sobre Naruto, UCM e Call of Duty! Realmente, tenho mais o que fazer. Inerentemente o Espiritismo exigia uma maior profundidade e uma discussão que se valia por si mesma - mas demandar tempo a discutir filmes, premiações e quem está certo por ter gostado ou desgostado é de uma esterilidade intelectual ímpar. Cansa. E tudo porque fiz um gracejo em forma de comentário numa comunidade nerd. Vou ali obrar e já volto...

2 comentários:

Unknown disse...

Olha lá...e não é que apareço aqui para ver teu blog e caio de cara num texto sobre algo que pensei exatamente esta semana...Apesar de não ser no mesmo nível, percebo que hoje nem almoço com colegas de trabalho passa incólume desse tipo de situação. As pessoas não querem discutir, conversar ou sequer ouvir o que o(s) outro(s) tem a dizer. Só importa a sua opinião, como se ela fosse a verdade absoluta. E olhe de quem duvidar disso!
Ricardo, apesar da distância, espero poder mantermos contato, mesmo que seja por aqui.

Um grande abraço do seu primo (mande um alo pro ali e pra tia, para sua esposa e crianças)

Mauricio Pavan Silva

Ricardo Foganholo disse...

Oi meu primo. Creio que não nos vemos desde o funeral do meu pai, e lá se vão mais de dois anos. Na ocasião brinquei que deveria abrir uma conta no Facebook, já sabendo de sua opinião em contrário. Mas, claro, sempre que posso estou postando minhas coisinhas aqui neste blog; mas pode me escrever um e-mail também. Por lá lhe passo meus contatos. Obrigado pelo comentário, eles são sempre bem-vindos. Quanto ao assunto em questão, o silêncio tem se tornado o proceder mais coerente diante da atual situação em que a arte do diálogo está se perdendo, infelizmente. Abraços, primo. Ah, e mande um abraço pra esposa. Até.