sábado, 16 de novembro de 2019

Cinema em poucas linhas #4

Turma da Mônica Laços - Sidney Gusman é um gênio! Ele levou Maurício de Souza e investir numa das principais frentes de fãs do seu trabalho: os leitores que formou nas décadas de 1970 e 1980, e que por haverem se tornado adultos, abandonaram a leitura das HQs da Turma da Mônica. Apostando na nostalgia e num trabalho artístico caprichado, as graphic novels lançadas pelo estúdio são um sucesso. Este filme, que adapta um destes exemplares é, assim como o material que lhe deu origem, uma aposta na nostalgia e saudosismo dos trintões e quarentões que precisam, é verdade, fazer um esforço para se conectar a suas versões infantis a fim de se emocionarem com a película. Ela tem uma série de defeitos, entre os quais abrir mão da comédia presente no trabalho de Maurício de Souza; fosse o trabalho dos irmãos Cafaggi menos insípido o filme seria um primor. Para quem aprecia demais uma viagem emocional ao passado, este filme é uma pedida imperdível.

Hellboy - Ron Perlman era, e persiste sendo ainda a melhor encarnação de Hellboy, ao menos na caracterização física. Não aprecio o trabalho que Guillermo del Toro realizou nos dois filmes que trouxeram o vermelhão ao cinema, mas tenho menos apreço ainda por este terceiro filme, uma tentativa de reiniciar a série. Hellboy aqui tem pneuzinhos e tanta maquiagem na cara que o ator sofre pra dar alguma veracidade pra o tipo que monta. Pior é saber que, diversamente dos filmes anteriores, Mike Mignola esteve direta e fisiologicamente envolvido nesta produção, o que apenas leva ao leitor de seu trabalho a questionar como é possível que o próprio criador enxergue sua criatura de maneira tão diversa dos fãs que conquistou - é uma decepção desde o primeiro minuto, infelizmente.

Stan e Ollie - Para as gerações atuais, assistir a o Gordo e o Magro é o mesmo que visitar a um museu. A vida que levaram e a arte que deixaram é literalmente do milênio passado, de tal conta que dificilmente as plateias atuais encontrarão algum prazer nesta cinebiografia. A dupla de comédia mais famosa do cinema em todos os tempos é primorosamente caracterizada, e seu ocaso no pós-guerra é um drama mais profundo do que as gags do filme faz parecer. Stan busca custear com apresentações teatrais das cenas da dupla pela Inglaterra o projeto de um último filme que, afinal, não empolga nenhum produtor, para quem o Gordo e o Magro são cousa do passado - o filme não vai acontecer mesmo, mas as dificuldades que enfrentam para levar adiante sua arte, estando já às portas da terceira idade é de cortar o coração, principalmente se o espectador é também um artista. Gostei muito.

A Queda As Últimas Horas de Hitler - Bruno Ganz morreu este ano, e o mundo perdeu um ator inigualável. Este filme é já de alguns anos passados, mas sempre vale a pena revê-lo. Baseado nos relatos da secretaria do Führer, Traudl Junge, o filme mostra os dias finais do líder alemão, diante da iminente tomada de Berlim pelas forças da União Soviética. Com cenas perturbadoras e atuações maravilhosas, acabou popularizado pela cena em que Hitler dá um esporro em seus altos oficiais, quando se apercebe da derrota. A partir de então, passa a delirar, e seus asseclas se dividem entre adoração cega, fuga ou temor mortal de se insurgirem contra suas insanidades. O suicídio acaba sendo o último recurso para esses, inclusive para o próprio Führer - é um filme fantástico, importante e primoroso. Vale cada frame.

Vingadores Ultimato - E lá vamos nós: o filme é ruim, pura e simplesmente. Mas não é ruim por conta de defeitos técnicos ou inépcia de seus realizadores. Nada disso. Os irmãos Russo já se provaram cineastas acima da média há muito, e os estúdios Marvel demonstraram sempre um capricho com as adaptações que realiza desde 2008 com O Homem de Ferro. Todavia, depois de um espetáculo sem igual como Vingadores Guerra Infinita, a sensação aqui é que a Marvel se deu conta que, se filmasse um tijolo por três horas ainda assim teria um campeão de bilheteria nas mãos. Antes tivessem feito isto, mas não - pensaram nas mais estapafúrdias saídas para a revanche dos Vingadores após serem derrotados por Thanos, e resolveram usar todas num filme que peca por falta de ritmo, que corrompe o ethos das personagens e leva mesmo a apresentar o multiverso. Prova de que o filme está repleto de furos é que os diretores acabam tendo de responder as muitas dúvidas da imprensa, que faz senão refletir as plateias. Uma pena que a Marvel tenha fechado seu primeiro grande arco de um universo cinematográfico interligado de maneira tão inferior, destituída de imaginação e criatividade.

Popeye - outro filme das antigas que revi recentemente foi Popeye, a estréia de Robin Williams no cinema. Amigos na vida, ele e Christopher Reeve interpretaram dois grandes ícones dos quadrinhos - claro, o Superman de Reeve tornou-se um clássico inoxidável e inescapável, enquanto este Popeye não chegou a ser um sucesso, mas é uma joia a qual falta maior reconhecimento. Nem de longe se propõe a mesma veracidade que o filme do último kryptoniano, sendo um retrato estilizado de uma cidadela litorânea americana pós-quebra da bolsa de 1929 - a direção de arte busca refletir numa estética decadente os exageros do traço de E. C. Segar, criando sapatos com pontas bojudas, e os antebraços e panturrilhas que Williams ostenta acabam sendo tão necessários quanto o inseparável cachimbo e o olho direito suprimido por algum acidente nas lides no mar. A versão brasileira ainda teve o capricho de haver posto Orlando Drummond e André Luiz Chapéu nas dublagens de, respectivamente, Popeye e Brutus. Shelley Duvall fecha o trio principal com uma irretocável e definitiva Olivia Palito. O filme peca apenas no último ato, quando o diretor parece ter dado de ombros e deixado a deriva o barco, com o perdão do trocadilho - a ação é confusa e o clímax é abrupto e rapidamente cortado por uma cantoria que encerra o filme afoitamente.

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